O golpe militar em Honduras proporcionou novos e tocantes exemplos de como funciona a mídia nativa, especialmente em momentos de tensão.
Como esta entrevistaa coletiva do presidente Manuel Zelaya no aeroporto de San José da Costa Rica, depois de ser sequestrado e levado a força para fora do país pelos golpistas.
Zelaya estava de pijama. Tivera sua residência em Tegucigalpa invadida, durante a madrugada, por soldados armados, disparando tiros. No entanto, o foco dos jornalistas, na maioria centro-americanos, era o dos golpistas.
Um dos repórteres quis saber por que o presidente ''não desistiu da consulta eleitoral catalogada como inconstitucional pela Corte Suprema de Justiça e o Ministério Público''. Outro perguntou: ''Esta situação política não deriva do desacato pelo senhor de uma ordem emanada pela Corte Suprema de Justiça?''
A resposta de Zelaya entrará para o longo anedotário dos golpes militares latino-americanos: ''Se a realização de uma consulta [eleitoral] não vinculante é motivo para se arrancar um presidente de sua moradia na ponta de fuzis, colocá-lo em um avião e tirá-lo do país, e isso é democracia, de que democracia estamos falando?''
O comportamento da maioria dos sites dos jornais brasileiros acompanhou essa postura hostil à democracia. O do Estado de S. Paulo não usou uma só vez a palavra golpe. O da Folha de S.Paulo recorreu a um estratagema ainda mais hipócrita, referindo-se a um ''aparente golpe de Estado''.
Dos maiores jornais, apenas O Globo (justiça se faça) usou a palavra proibida.
Ficou explícito o posicionamento da mídia mercantil na extremidade direita do espectro político latino-americano.
Entre os governos, todos condenaram a quartelada, até o do presidente colombiano Alvaro Uribe.
Entre os órgãos de imprensa, prevaleceu a linha de argumentação dos golpistas.
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