terça-feira, 9 de junho de 2009

CENAS E CENÁRIOS SANTARENOS

por Tiberio Alloggio (*)

A vitória no terceiro turno (STF) da prefeita Maria do Carmo (PT) e sua recondução ao comando da prefeitura deu um fim ao vácuo de poder que, como um castigo, junto ao pior inverno de todos os tempos, abateu-se sobre Santarém.

Se de um lado a vitoria da Maria põe uma pedra tumbal nas pretensões de um súbito retorno ao poder do grupo politico por ela derrotado em 2004, pelo outro, esses 6 meses de “limbo” acabaram por evidenciar (antecipando) o cenário dos futuros enfrentamentos, revelando, inclusive, velhos, e sobretudo, novos protagonistas.

A perda gradual de hegemonia do grupo político do deputado Lira Maia sobre o bloco conservador da direita santarena tornou-se fato consumado. O ex-prefeito, apesar de manter ainda uma base popular no interior do município, a cada dia que passa é menos representativo desse bloco.

Com isso, a movimentação política do bloco conservador consiste principalmente na tentativa de recomposição entorno de nomes e vultos novos.

As famílias tradicionais santarenas, com peso econômico cada vez menor e cada vez mais dependentes (em seus negócios) do poder público (mídia e serviços), há tempo rejeitam a liderança Lira Maia.

Entrincheiradas hoje em partidos políticos fisiológicos, que em alguns casos dominam, essa elite acabou por constituir uma espécie de centrão politico-eleitoral que pratica uma sorta de pragmatismo que os leva a agregar-se nos blocos com maiores chances de vitória eleitoral.

Órfãos de Lira Maia, e cientes da força eleitoral de Maria do Carmo, coligaram-se ao PT. Mas por se tratar de alianças contingenciais aos seus interesses, tudo pode mudar na medida que aparecerem alternativas mais apetitosas. Rocha e Corrêa lideram eleitoralmente nesse bloco, mas a lista é muito mais longa.

Quem representa (pelo bem e pelo mal) o poderio econômico em Santarém hoje é o setor empresarial (encravado na ACES) que domina o comércio de todo tipo. É uma elite de origem cearense que está fortalecendo tendencialmente a liderança local do médico Nélio Aguiar e de forma mais geral do seu ilustre conterrâneo Helenison Pontes.

O investimento dessa elite, apelidada de “partido dos cearense”, entorno do tributarista tornou-se evidente na medida que, além do caixa, já envolve a promoção massiva de sua imagem na mídia, com a criação de novos instrumentos de imprensa (o jornal Novo Estado) e a compra de espaços em blogs e semanários locais.

O ponto fraco dessa operação é a falta de proposta política, acompanhada pela inconsistência politico-partidária de seus seguidores, confinados em partidos nanicos. Para suprir essa deficiência, o marketing do “partido dos cearense” baseia-se exclusivamente na tese de que o tributarista seria o político “mais bem preparado” para todo e qualquer cargo, o “único” capaz de colocar Santarém no trilho de seu destino glorioso.

O vácuo de poder em Santarém produziu também a novidade dos “news verdes”. Na verdade, por se tratar de ex-técnicos e crias do vice prefeito do mutirão, Alexandre Von, o grupo não representam nenhuma “news”. Mesmo assim, não deixam de ser novidade, por se assemelhar aos outros na busca desesperada de construir uma imagem que os diferenciem politicamente do ex-prefeito Lira Maia.

Resultado da classe média alta “enfurecida” pelas perdas de privilégios, atribuídos as politicas sociais do PT, optaram por ingressar num tradicional partido de aluguel, como o Partido Verde. O médico Erik Jennings é a principal promessa eleitoral desse grupo.

Se do ponto de vista político partidário as diferenciações examinadas acima não significam muito na conjuntura dos tradicionais blocos políticos que se enfrentam em todas as eleições, chama a nossa atenção a tentativa do núcleo-duro do bloco conservador de querer renovar essa disputa a partir de nomes alternativos ao do deputado Lira Maia.

Essa estratégia, se por um lado não muda a natureza de classe e de interesses da disputa politica, pelo outro tem o mérito de tentar renovar o visual altamente desgastado do bloco conservador, inclusive forçando essas mudanças no bloco oposto (o de esquerda) que não poderá continuar por muito tempo se sustentando exclusivamente em cima do carisma da prefeita Maria do Carmo.

Enfim, 2010 já está aqui, e 2012 está nos esperando lá na esquina.

* É sociólogo e reside em Santarém. Escreve regularmente no Blog do Jeso, de onde o artigo foi extraido

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