quarta-feira, 18 de março de 2009

SE FOI

Clodovil Hernandes, dublê de estilista, apresentador de tv, comunicador e político dava a forte impressão de concentrar fartas doses de energia negativa.
Era um ser humano abraçado ao próprio rancor.
Passei alguns dias com ele acompanhando suas frenéticas atividades num ateliê que tinha na avenida Cidade Jardim em São Paulo.
Também acompanhei as gravações e bastidores do programa que ele então fazia na tv Bandeirantes.
Recordo-me de uma noite em que do lado de fora do estacionamento da emissora, dentro da luxuosa van do Clô, ele ter reunido asseclas, amigos e vários integrantes de sua equipe para vociferar um raivoso discurso conspirando pela queda do então diretor do programa que era Maurício Sherman.
Até aí nada que seja novidade nos bastidores da televisão mas o que espantava era o grau de agressividade do seu discurso jocoso sobretudo porque estava sendo feito diante de um estranho que era eu que ali estava para traçar o perfil do sujeito.
Não me lembro se me referi a esse episódio na matéria que posteriormente escrevi. Mas lembro que por ela ser longa consistia numa caudalosa abertura e depois longa sequencia de uma entrevista ping- pong totalmente gravada porque já haviam me alertado que Clodovil poderia posteriormente negar o que disse. E não deu outra. Reproduzi fielmente o que o estilista me respondeu e quando a entrevista saiu só me lembro de um desaforado telefonema que ele me deu dizendo :
--- Eu só poderia esperar isso de uma revista que vende xoxota a quilo !
--- Clodovil, eu reproduzi fielmente o que você disse... está tudo gravado...
Mas ele continuou negando o que havia dito . Me esculhambou. Não guardo qualquer mágoa por isso mas encerrei a conversa dizendo :
--- Bom , se a revista vende xoxota a quilo porque você fez tanta questão de aparecer nela ???
É bom lembrar que a matéria teria sido feita por sugestão de um chefão da Bloch que estaria atendendo a um pedido do próprio Clodovil.
Não tinha nada contra Clodovil Hernandes. Mas também nada a favor. Se ele não acrescentava nada àquele zoológico que é o nosso Congresso Nacional também não era por sua causa que aquela casa ficava pior.
Inegável era sua inteligência como inegável era sua ironia e sua maldade. Mas era uma pessoa "carregada" de astral pesado e que eu presenciei tratando muito mal seus subordinados.
Que encontre do outro lado a paz que aqui parece não ter encontrado.

Extraído do Ricardo Soares
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