O doutor Paulo Lacerda entrou no Palácio do Planalto
Por Paulo Henrique Amorim
No dia 21 de maio de 1996, o delegado da Polícia Federal Paulo Fernando da Costa Lacerda encaminhou ao Juiz Federal da 10ª. Vara/DF o inquérito policial numero 01.113/92.
O inquérito pediu o indiciamento de Paulo Cesar Cavalcante Farias.
E comprova a participação de Fernando Collor de Mello “como sustentáculo velado das atividades criminosas do grupo, por isso que nada fez ao longo de seu mandato presidencial para impedir a ação inescrupulosa de Paulo Cesar Farias… Ademais, foi um dos grandes beneficiários do dinheiro ilícito que pagava suas despesas particulares e de alguns de seus familiares”.
Paulo Lacerda abriu o computador de um dos escritórios de PC Farias, que, aparentemente, nada tinha no disco rígido.
Tudo em branco.
Um perito de Policia Federal (não foi preciso recorrer à CIA) encontrou um documento que traçava a linha de ação quadrilha de PC Farias:“… (o) discurso para o publico externo era para fazer o ‘funding’ da campanha política…”
“… pode-se afirmar que os objetivos do sistema (sic) para o publico interno, divide-se em tangíveis e em intangíveis…
1. Tangíveis:
a) obter receitas via recebimento de comissão por intermediação de negócios, cujo percentual ou valor é fixo e ajustado, previamente, caso a caso;
b) obter receitas via recebimento de comissão por intermediário de negócio, ajustada consoante o resultado a ser alcançado ou o ganho de eficiência a ser obtido, variável e aleatoriamente quantificado;
c) formar ‘joint ventures’ com empresas que tenham objetivos passiveis de serem viabilizados pela capacidade de alavancagem do sistema.”
Foi um trabalho de quatro anos com 38 volumes e 1 mil 808 “elementos documentais”.
Além de PC Farias, Paulo Lacerda pediu o indiciamento d os outros sete membros da “societas sceleris” (quadrilha) do “famígero ESQUEMA PC”.
E outras dez pessoas que – fora do ESQUEMA PC – para ele trabalhavam.
Paulo Lacerda conseguiu demonstrar que a ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello “recebeu vultosos recursos do também denunciado Paulo Cesar Farias, transferidos de correntistas ‘fantasmas’, entre diversos outros favorecimentos ilícitos.”
(A Ministra reformou a casa no Jardim Europa, bairro nobre de São Paulo, com o dinheiro dos empresários que depositavam nas contas “fantasmas” de PC Farias. Uma mini Casa da Dinda.)
Como Paulo Lacerda conseguiu comprovar que a Ministra da Fazenda recebia dinheiro do ESQUEMA ?
“Como contra-partida, restou comprovada a autorização ministerial … autorizada por Zélia Cardoso de Mello, concedendo o aumento de 17,40% nas tarifas de transporte coletivo de passageiros, de interesse da RODONAL, entidade que um dia antes da publicação do reajuste, em 13/09/90, depositou a favor da EPC - Empresa de Participação e Construções Ltda, firma de “fachada” pertencente a PAULO CESAR FARIAS, importância superior a oitocentos mil dólares.”
A Ministra da Fazenda se beneficiou do foro privilegiado e acabou absolvida, apesar dos esforços sobre-humanos do Procurador Claudio Fontelles.
Collor foi absolvido no Supremo Tribunal Federal, embora tenha renunciado à Presidência.
PC Farias fugiu para a Tailândia, ficou preso por algum tempo e acabou assassinado.
Dos outros, não se tem noticia de que tenham sido presos.
Este inquérito 01.113/92 do ínclito delegado Paulo Lacerda foi o primeiro e até hoje o mais completo e irretocável inquérito sobre crimes colarinho branco e o crime organizado no Brasil.
Este inquérito foi o primeiro a usar o método de investigação que, mais tarde, como diretor geral, o Dr Paulo Lacerda levou para a Policia Federal.
Antes, uma investigação da Polícia Federal consistia num delegado e num escrivão, para tomar depoimentos.
Este o primeiro inquérito a mobilizar vários delegados.
E a envolver várias agencias governamentais, como a Secretaria da Receita Federal e o Banco Central, foi o primeiro a se valer de informação extraída de computador.
Foi aí que o Dr Paulo Lacerda transformou a Polícia Federal numa Polícia Republicana.
Nunca antes de o Dr Paulo Lacerda chegar lá a PF tinha desfechado tantas operações para combater o crime do colarinho branco.
( Hoje, a Polícia Federal se tornou um Denarc – passou a evitar chegar perto de criminoso de colarinho branco …)
O Presidente Lula e o Supremo Presidente Gilmar Dantas – segundo Ricardo Noblat – tinham que demitir o Dr Paulo Lacerda (com a mão de gato do ministro serrista Nelson Jobim e a omissão do Ministro da Justiça Abelardo Jurema).
Porque o Dr Paulo é o patrono, o guia de uma polícia que não larga o osso.
Uma polícia destemida. Que vai até o fundo.
Se, depois, os ricos e poderosos e olhos azuis conseguem Habeas Corpus (como Daniel Dantas), a Polícia não tem culpa.
Mas, o Dr Paulo ia até o fundo.
Ele entregou Daniel Dantas ao ínclito delegado Protogenes Queiroz e depois o ajudou, para ir até o fundo.
Daniel Dantas, Gilmar Dantas, quer dizer, Mendes, Nelson Jobim e o Presidente que tem medo sabem muito bem: o problema não era o Protogenes, apenas.
O problema começava no Dr Paulo. Está tudo lá, na Satiagraha.
A nêga tá lá dentro, dizia o locutor esportivo. A República está lá dentro da Satiagraha e dos 12 HDs que, dessa vez, a PF preferiu abrir na CIA …
O Governo Lula não podia respirar o mesmo ar de Brasília que o Dr Paulo respirasse.
Quando explodiu o ESQUEMA PC, o Dr Paulo Lacerda pegou o Presidente da Republica, a Ministra da Fazenda, todo o gabinete do Presidente da Republica (inclusive seu secretário particular), a Primeira Dama e uma galeria de ilustres e poderosos empresários - leia quem dava dinheiro para PC Farias.
O Dr Paulo é um homem muito perigoso. Tem que respirar o ar puro do Tejo.
O Brasil da “Nova República”, de Sarney a Lula, passando por Fernando Henrique, não resiste à competência do Dr Paulo (e do Protogenes).
O ínclito delegado Protogenes Queiroz, com a ajuda – legal – do Dr Paulo Lacerda ia (e vai) pegar Daniel Dantas e a rapaziada da BrOi (seus protagonistas estão todos lá, no ESQUEMA PC …).
Dr Paulo é daqueles que enfrentam o Gigante Adamastor.
Vasco da Gama também não tinha medo do Gigante. E chegou às Índias.
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