O presidente que tem medo achou que ia ficar amigo deles
CONVERSA AFIADA
Paulo Henrique Amorim
O primeiro ato de Luis Inácio Lula da Silva ao saber que tinha sido eleito pela esmagadora vantagem de 61% a 39%, em 2002, num domingo à noite, foi dar uma entrevista ao vivo a Pedro Bial, no Fantástico.
Na segunda-feira, ele ancorou o jornal nacional na bancada de Fátima Bernardes e William Bonner.
O presidente eleito devia achar que sua vitória arrasadora teria o dom de charmar o PiG.
Teria a propriedade de convencer o PiG de seus atributos e virtudes.
Ledo engano. O PiG tem interesses.
Os seus e os da elite branca e conservadora (e separatista, no caso de São Paulo).
Quando os dois interesses se confundem, o PiG joga o jogo da elite.
Quando não se confundem, o PiG trata primeiro dos seus interesses: farinha pouca, meu pirão primeiro.
Na memorável entrevista que concedeu ao feroz inquisidor – clique aqui para ir ao site da Presidência da República - o Presidente Lula disse que não lia o PiG porque tem azia.
Foi uma forma leviana e superficial de enfrentar um dos buracos negros de seu Governo.
(Evidentemente o buraco de maior diâmetro é a patranha da BrOi.)
Durante a entrevista a esse perguntador percuciente, Lula deu a entender que, cedo ou tarde, a opinião pública separa o verdadeiro do falso.
Ainda mais que, agora, a internet democratizou a informação, para quem tem acesso a computador e à alta velocidade, argumentou ao presidente, diante daquele jornalista incansável.
Na verdade, a reação de Lula ao PiG é uma reação anti-democrática e mesquinha.
Mesquinha, porque, talvez, resolva o problema dele e de seu Governo – que navega nos altos índices de popularidade.
Mas, anti-democrática, porque Lula não encontrou mecanismos institucionais, duradouros, de Estado, que democratizassem a informação.
Ele permitiu que o PiG exercesse uma pressão incontrastável, em defesa de seus interesses e, quando apropriado, dos interesses da elite branca (e separatista, no caso de São Paulo).
A única reação do presidente que tem medo foi criar a TV Brasil.
Se tudo der certo, a TV não vai dar IBOPE. Então, para que serve a TV Brasil?
O Boni costumava dizer: sempre que você ouvir falar em televisão para a classe A, saia correndo.
Lula diz ao perguntador implacável que ele próprio, Lula, não assiste à TV Brasil: não é feita para ele.
Quem assiste? A TV Brasil é um instrumento de democratização da informação?
Como, se não vai dar IBOPE? É uma forma elitista de combater o PIG?
A Globo deve morrer de rir…
Lula renunciou a uma responsabilidade histórica: não enfrentou o PiG e ignorou a sua capacidade de promover e incitar o Golpe nas instituições democráticas.
Lula, o presidente popular, pode sobreviver ao PiG e à sua pregação subversiva.
Mas, Lula, o primeiro presidente trabalhista desde a queda de João Goulart, em 1964, tinha a responsabilidade política de neutralizar o golpismo do PiG.
Lula não se tornou um herói do PiG. Foi uma vítima do PiG.
E se escondeu atrás da TV Brasil.
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