sábado, 27 de setembro de 2008

ELEICÕES EM SANTARÉM

SERÁ UMA SURRA?

por Tibério Alloggio (*)

Campanhas eleitorais vitoriosas costumam assentar-se num tripé, formado: 1) Pelo candidato, 2) Pelo sistema de alianças, 3) Pelo discurso programático. Trata-se, portanto, da construção de um triângulo e não de uma qualquer outra figura geométrica. Uma combinação entre discurso correto e musculatura política que pode transformar qualquer candidato, mesmo que seja desconhecido, em um concorrente viável para a vitória nas urnas.
Exatamente o contrário de querer aparecer na eleição com meia dúzia de frases alinhavadas por algum “marqueteiro genial” turbinado em pesquisas qualitativas. Dos quatro candidatos, Joaquim Hamad é aquele que não precisou e nem precisa de tripé nenhum, pois é candidato de mentirinha.
Márcio Pinto, por representar um segmento social minúsculo e sectário, nem se preocupou em arrumar uma base sólida para sua candidatura. Foi para a corda bamba onde todo mundo fica só olhando para ver se cai, só para mostrar na TV que o PSOL ideologicamente existe.
Lira Maia até que tentou construir o tripé, mas acabou ficando por ele mesmo. Rechaçado por todo mundo, teve que se aliar a ele mesmo e por extensão aos seus familiares. Sozinho, teve que focalizar seu discurso programático nos seus atributos, e mais genericamente no povo.
Maria do Carmo, já com um acumulo de quatro anos de discurso, montou uma enorme base de alianças, dobrando para oito o seu discurso de quatro anos. Bem ao estilo Lula, Maria elegeu-se com base numa aliança pequena, mas impulsionada pela idéia de que faria um bom governo. “Atraia o eleitor e você atrairá os políticos” e agora, com 12 partidos ao seu reboque está se dando bem, e por uma razão bem simples: o contrato que estabeleceu há 4 anos com o eleitor está sendo honrado.
Pode haver decepções. Mas aqui Maria se beneficia de outros fatores. O eleitor médio não enxerga na oposição vontade nenhuma, ou força, para fazer melhor o que o atual governo já faz. Nem para fazer o que deveria ser feito, e Maria não faz.
Apesar de uma campanha insossa como a atual, Maria vem avançando como um trator, terraplanando lentamente o chão, e compactando junto ao solo, seu principal adversário. Já quase na reta final da campanha, os desequilíbrios das forças em campo estão aparecendo de forma cada vez mais evidente, contribuindo por influenciar indecisos e desinteressados.
Esse desequilíbrio entre a situação e a oposição já gerou alguns tons da campanha que chegam a ser surreais. Enquanto Lira Maia, em mais um surto de loucura do seu marqueteiro, aparece na telinha discursando sozinho sobre como se “aproveitará” do apoio de Lula e Ana Júlia, Maria do Carmo coloca o tempo todo, o próprio Lula e Ana Júlia na telinha fazendo propaganda por ela.
Enquanto Lira Maia aparece ao lado de obras que havia abandonado (o viaduto) e/ou nunca iniciado (o Parque da Cidade) na patética tentativa de associa-las à sua imagem, Maria do Carmo aproveita do verão para soltar maquinas e asfalto no município todo.
Maria do Carmo coloca nas ruas um “oceano” de carros e de gente, e Lira Maia responde colocando um riacho de motos. Maria apresenta pesquisa do Ibope, Lira Maia apresenta pesquisas do seu semanário.
Enquanto isso, a justiça eleitoral persegue sua coligação, o site transparência o coloca na vice liderança nacional dos candidatos corruptos, perdendo só de Paulo Maluf, e já entrou na roda dos processos do Supremo por desvio de dinheiro público.
É o fim da linha para a oposição? Parece que sim, pelo menos desse grupo político. E tudo indica que vai ser na base da surra eleitoral. Ou seja uma vitória esmagadora da coligação Maria do Carmo.
Quatro anos depois, Maria e o PT devem continuar donos absoluto da agenda politica santarena. Paralelamente no Brasil o crescimento médio da economia e a criação formal de empregos batem de longe as estatísticas dos antigos consórcios PSDB-DEM. Ou seja, a candidata Maria já tem o discurso pronto para 2010.
Como o Lula, ela dirá que é preciso continuar com a distribuição de renda, com o combate à pobreza, com a criação de empregos. Lembrará também que o governo do PT não descuidou da inflação e não deixará de lembrar como o neoliberalismo burro estilo PSDB/DEM já se voltou contra seus idealizadores quebrando o sistema financeiro e a economia nos Estados Unidos.
Enfim, com todas as cartas na mão deverá indicar o futuro Deputado Federal dessa região.
Com a eclipse do Lira Maia, cuja visão do desenvolvimento local limitou-se à eliminação da floresta para plantar soja e criar gado como ficará a oposição em Santarém? Vai vir outro ruralista? Ou vão reciclar a turminha da “eficiência e da competência” neoliberal? Aquela que é preciso cortar gastos, diminuir o governo e abrir mais espaço para a iniciativa privada poder mamar?
Parece pouco, para não dizer démodé, mas se for isso teremos o mais do mesmo por mais uma década. Terá Santarém alternativas ao mais do mesmo? Poder até que pode, porem para isso é necessário, em primeiro lugar, um discurso, um projeto, uma proposta.
Precisa concretizar, em algum grau, idéias construídas com antecedência, na luta política, no embate das visões de mundo, na polêmica sobre as iniciativas do governo e sua execução.
A conferir.

* Sociólogo escreve em blogs e revistas.

Nenhum comentário: