Por Luis Nassif
Qualquer pessoa minimamente informada não tem mais dúvidas de que a CPI dos Grampos foi montada com o objetivo central de boicotar as operações da Polícia Federal.
É um jogo nítido, claro. Quando a Veja soltou a capa sobre o "grampo no Supremo", no mesmo dia estranhei a matéria: não apenas mal-feita, mas um cozidão forçado, visando algum objetivo que ainda não estava muito claro na época. Supus que fosse uma blindagem contra uma eventual CPI da Abril. Nos dias seguintes, o que se viu foi um festival de desmentidos à matéria, de Marco Aurélio de Mello - declarando que o tal email com ameaças que recebeu foi supervalorizado pela revista - a Sepúlveda Pertence, que em entrevista à Terra Magazine admitiu que a revista havia forçado a barra ao afirmar que ele pedira aposentadoria do Supremo devido a escutas que sofrera. Restou Gilmar Mendes bradando e bradando contra escutas.
Aliás, ontem no depoimento, respondendo à pergunta de um deputado, o delegado Protógenes foi enfático em desmentir a informação da revista de que teria havido gravações no STF. O correto seria a revista apresentar as evidências que permitiram fazer acusação de tal gravidade. É evidente que a acusação ficará por isso mesmo. Em qualquer país sério do mundo essa acusação teria dois desfechos: sendo verdadeira, a punição exemplar dos envolvidos; sendo falsa, a punição exemplar de quem soltou a informação.
Na edição seguinte ao da capa, a encenação continuou, com Marcelo Itagiba ganhando amplo espaço para informar que havia requerido a CPI dos Grampos. Logo em seguida, o Seminário sobre Mídia na Câmara Federal. Uma ou duas semanas depois, Páginas Amarelas da Veja com o presidente da Câmara Arlindo Chinaglia.
Agora se sabe que já existiam rumores, na ocasião, sobre jornalistas que foram grampeados em conversas suspeitas com fontes.Toda essa articulação visava criar um fogo de encontro para as investigações da PF.
Ontem, o que se viu no interrogatório do delegado Protógenes foi um circo de horrores. Parlamentares forçando de todas as formas a barra para provocar declarações que pudessem comprometer os trabalhos da Polícia Federal. Tudo muito óbvio, ostensivo, grosseiro, truculento.
Já era hora de cair a ficha e se parar com esse jogo, que apenas desmoraliza ainda mais as instituições.
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