segunda-feira, 4 de agosto de 2008

ANÃLISES E OPINIÕES

A EXTREMA DIREITA

Por Luiz Carlos Azenha

A extrema-direita no Brasil é ruim de voto. Mas é boa de propaganda. Conta com gente importante na mídia, como o diretor de Jornalismo da TV Globo, Ali Kamel e porta-vozes espalhados pelos grandes jornais. Além de militares de pijama, também conta em sua "base" com os ruralistas. Quando eu estive em Roraima para gravar um documentário sobre a disputa por terra na Reserva Raposa/Serra do Sol entrevistei o prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartiero, do DEM. Muito articulado. Ele figura com destaque no documentário. Na entrevista o prefeito revelou que a estratégia da oposição à reserva, que conta com o apoio de militares ligados aos antigos serviços de informação, era empurrar o caso para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Notem que o processo de demarcação teve andamento no governo de Fernando Henrique e foi completado no de Lula. Sem votos no Congresso ou controle do Executivo, a saída foi empurrar o assunto para o STF, onde os opositores da demarcação supõem contar com a simpatia do presidente do tribunal, Gilmar Mendes. Eles também contam com o apoio do ex-juiz e atual ministro da Defesa, Nelson Jobim. Não sei se avisaram ao ministro, mas ele é visto pela extrema-direita como uma "saída honrosa" na sucessão de Lula.
A extrema-direita brasileira não é articulada em um partido político, nem tem posições uniformes. O nacionalismo tacanho faz com que ela às vezes se confunda com setores da esquerda brasileira. Os militares, respeitosos da hierarquia, são os mais suscetíveis ao discurso do "nós contra eles", que coloca do lado de lá "traidores da pátria" - todos aqueles que não concordam com suas posições - e do lado de cá os "salvadores da pátria". É curioso notar como o Estadão e as Organizações Globo abrem suas páginas para a extrema-direita. Saudade do regime militar?
O que essa gente quer é ter uma presença política desproporcional aos votos nas urnas. Repito: a extrema-direita brasileira só elege síndico de prédio na Urca. Mas pretende obter, gritando na mídia, o que não consegue eleitoralmente. A articulação noticiada pelo Estadão faz parte dessa gritaria. É a tentativa - que nem sei se já não foi bem sucedida - de dar um abraço de urso no governo federal.

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