sexta-feira, 18 de julho de 2008

SIGAM O DINHEIRO

Por Luiz Carlos Azenha

Raras vezes vi a internet tão nervosa quanto nos últimos dias.

Se você escreve algo que remotamente não combina com a plataforma do internauta imediatamente se torna petralha ou demo-tucano.

Os dogmas se enrijeceram.

De repente, Daniel Dantas se tornou apenas um cliente do Opportunity. Ou se tornou a origem de todos os males do universo.

Como diria uma amiga, menos.

A Polícia Federal não precisa de "mocinhos". O delegado Protógenes Queiroz fez seu trabalho. Cometeu erros? Sim. Mas não pode e nem deve ser desqualificado por isso. Também não deveria ter vazado a gravação de uma conversa que teve com um chefe que, na verdade, não prova nada contra o chefe.

Prova apenas que o próprio delegado vaza informações para a mídia. O que o enfraquece. Se ele gravou um chefe sem que o chefe soubesse e ainda vazou o conteúdo para um jornalista isso poderá ser usado pela defesa de Daniel Dantas para levantar suspeitas sobre o próprio delegado. Será que foi ele que vazou outras informações sigilosas para a mídia, dirão os advogados?

O delegado tem a obrigação de vir a público e sepultar de vez todas as dúvidas que foram levantadas em nome dele nos últimos dias. Ele foi boicotado durante a investigação? Outros integrantes da Polícia Federal vazaram informações sigilosas do inquérito? Quem fez isso? Houve boicote da corporação contra ele? Como? O ministro da Justiça Tarso Genro concorreu para esvaziar a investigação? Como? O presidente Lula sabia?

Em resumo, o delegado não pode falar mais através de terceiros. Ele elogia os chefes em uma reunião gravada mas, através de amigos, diz a jornalistas que está sendo boicotado?

A quem serve esse "herói perseguido"? Olhem para o noticiário e tirem suas próprias conclusões.

O que mais importa neste momento são as provas coletadas e o tratamento que será dado a elas pela Polícia Federal - que anunciou a criação de uma força-tarefa para cuidar dos inquéritos.

É aí, na análise das provas, que o trabalho comandado por Protógenes Queiroz será validado ou não.

Se o que se busca, de fato, é matar a investigação, isso será feito na análise das provas recolhidas pela Polícia Federal.

Elas poderiam comprovar o envolvimento do banqueiro com empresários, políticos, jornalistas e juízes? Talvez, mas duvido.

Em 26 de abril de 2008 o jornal Folha de S. Paulo noticiou a existência da investigação sigilosa.

É fato que os interessados em fazer isso tiveram quase três meses para se livrar de qualquer prova material comprometedora. Ou estou errado?

Pessoalmente acredito que se deva correr atrás do dinheiro.

Do dinheiro depositado em paraísos fiscais.

Do dinheiro em contribuições de campanha.

Afinal, de onde sairam os 865 mil reais que foram apreendidos na casa de Hugo Chicaroni?

O dinheiro veio mesmo de Humberto Braz, assessor de Daniel Dantas?

O que Dantas disse a Naji Nahas quando ambos falaram por telefone no dia 13 de maio de 2008?

Humberto Braz, fotografado no dia 14 de maio pela Polícia Federal ao sair do prédio onde estava Nahas, foi combinar com o empresário a "caixinha" para subornar o delegado?

E o bilhete apreendido na casa de Dantas, que fala em "contribuição para que um dos companheiros não fosse indiciado criminalmente"?

A que se refere o "1.500.000,00", "cash", "Pedro, 2004"?

Como se vê, há muitos caminhos para seguir o dinheiro.

Curiosamente, desta vez só temos UMA CERTEZA: não haverá CPI.

PS: Li o texto de Bob Fernandes no Terra Magazine. Não há motivo para duvidar do que ele escreveu. E, sendo assim, está claro que o que se pretende, através do delegado Protógenes Queiroz, é atingir Lula. É transformar o delegado num instrumento contra o governo. Um herói incensado no Jornal Nacional naquela dramática narração do Cesar Tralli. Pode não ser isso o que querem os dois, repórter e delegado. Mas é a essa narrativa que "servem" neste momento.

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