Chávez costuma usar o diabo como metáfora da principal mudança ocorrida nos últimos dez anos na América Latina. O ponto de inflexão foi marcado, para ele, pela primeira conferência de cúpula da América Latina, Europa e Caribe, realizada no Brasil. Chávez era presidente recém-eleito. O Brasil era governado por Fernando Henrique.
Estavam todos sentados ao redor de uma mesa “muito grande”, na lembrança de Chávez. O cubano Fidel Castro falou e o venezuelano usou a palavra logo depois. Os dois mostraram muita afinidade. Fidel, através do chanceler cubano, Felipe Pérez Roque, mandou um bilhete que Chávez mantém guardado e freqüentemente cita. “Fidel”, contou o presidente venezuelano, “escribió de su puño y letra”:
“Chávez! Siento que ya no soy el único diablo”.
De lá para cá, o “diabo” multiplicou-se. Além de ter aparecido como militar (Chávez) na Venezuela, tomou forma de operário (Lula) no Brasil, encarnou em um índio (Evo) na Bolívia e, na Nicaraguá, surgiu como guerrilheiro (Ortega). A última aparição, no Paraguai, é mais surpreendente: tomou o corpo de um bispo (Lugo).
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