quinta-feira, 12 de junho de 2008

ANÁLISES E OPINIÕES

ASSIM COMO NOSSOS PAIS
Por Luis Nassif

O país está avançando. Como em 1998. Minha visita em Brasília permitiu surpresas agradabilíssimas – sobre as quais escreverei nos próximos dias. A maior delas, o grande avanço que está se dando no âmbito dos Tribunais de Contas.

É um baile animadíssimo. Sem argumentos, a oposição vai de Arthur Virgílio, dos factóides da mídia. E a situação – outrora carbonária – rebate com maturidade, permitindo à nave continua seu caminho.
Mas o iceberg caminha.
Antes de ontem, no seminário da ANBID (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), o JPMorgan previu, para 2010, uma necessidade de financiamento externo de mais de US$ 40 bi. Ontem mesmo, um alerta do Banco Mundial especificamente para Hungria e Brasil: não contem com financiamento externo elevado para fechar suas contas; a crise internacional irá reduzir substancialmente o fluxo de recursos.
FHC foi eleito em 1998 por ampla maioria. Durante quatro anos tirou de letras todas as denúncias. Em 1998 parecia que o governo estava tomando rumo, aprendia a governar, avançava.
Em fevereiro de 1999 era a pessoa mais odiada do país. A razão é óbvia: a crise cambial que ele teimou em postergar por motivos eleitorais e ideológicos.
O que será o Brasil pós-Lula, com nova crise cambial? Dançarão as milhares de empresas que, nos últimos anos passaram a depender fortemente de insumos importados. Haverá uma semi-paralisação da economia afetando a receita fiscal – e colocando em risco os programas sociais. A inflação será mais perigosa do que em 1999 e 2002, porque o percentual de componentes importados aumentou substantivamente.
O enorme capital financeiro acumulado nesses anos todos de lambança sairá rapidamente do país. Depois de passado o terremoto, voltará de novo para comprar as empresas quebradas na bacia das almas.Os bancos simplesmente mudarão de posição no câmbio. Capitalizados por anos e anos de situação favorável, se limitarão a administrar a inadimplência.
A classe média não se conformará com a perda da estabilidade recém-conquistada, com a melhoria de emprego que durou tão pouco tempo. As classes populares sentirão na pele a perda de renda com a volta da inflação.
A oposição virá babando em cima, os jornais com mais razão ainda em virtude das perdas que sofrerão com a desvalorização do câmbio – em contraposição à piscina olímpica na qual estão nadando nesses tempos de dólar baixo. Os adeptos de Lula radicalizarão a resistência.

Haverá uma luta encarniçada entre o candidato da oposição e o de Lula. Qualquer bobagem, agora, virará denúncia com potencial explosivo.
Observando a fogueira, FHC e Lula, esperando a situação piorar para serem chamados para mediadores do desastre que construíram.
Depois, o câmbio se ajeitará no novo patamar. Haverá mais um furacão de reestruturações empresariais no pais ampliando a concentração. Os campos da Petrobrás começarão a jorrar petróleo, os biocombustíveis entrarão em ação. E se fechará um ciclo – 1994-2010 – no qual o pais jogou fora a maior oportunidade da sua história.
Catastrofismo? Não. Apenas repetição de um velho filme. E o que acontece em Brasília? Nada muda.
Transforma-se um programa necessário – a tal política industrial – naquele que irá salvar o pais da apreciação cambial. Factóide! Anuncia-se aumento do superávit fiscal que permitirá reduzir a vulnerabilidade fiscal e cambial. Factóide!
Assim como FHC, Lula não quer perder seu grande momento de glória passageira. Mas não foi assim nos últimos 500 anos?

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