"EU ORGANIZO O MOVIMENTO, EU ORIENTO O CARNAVAL"
Por Luis Carlos Azenha
Talvez eu seja excessivamente otimista. Ou prefira ver o copo meio cheio. O fato é que não consigo me entregar à completa desilusão com a sociedade dos homens, embora isso seja tentador nos tempos de hoje.
Sim, concordo com a análise segundo a qual a mídia corporativa brasileira coloca seus interesses políticos e econômicos acima dos interesses do próprio público a que supostamente serve.
Também concordo com a análise daqueles que dizem que, no interior do governo Lula, os defensores do aprofundamento da democracia econômica e política no Brasil vem sendo continuamente derrotados.
O neoliberalismo do consenso de Washington foi, sim, enterrado. O estado, enfim, não acabou. Agora ele se associa direta ou indiretamente às grandes corporações. É o que vemos na definição da política de desenvolvimento da Amazônia, por exemplo. O Brasil fará as usinas hidrelétricas, as estradas e a infraestrutura - financiada, by the way, com o dinheiro dos impostos que você, leitor, paga - adeqüadas às necessidades das grandes corporações. As leis trabalhistas serão devidamente flexibilizadas. E o território, inclusive a floresta, será apropriada de acordo com as regras ditadas por esse capitalismo "de estado" em que a parte do estado é fazer as regras favoráveis àqueles que já têm tudo a seu favor.
No horizonte temos uma imensa classe média baixa cujos integrantes ascenderão socialmente graças aos programas de transferência de renda, devidamente formada através do Prouni em universidades particulares de quinta categoria, incorporada ao mercado de trabalho valendo um salário mínimo - que será gasto com apetrechos propagandeados na novela das oito da TV Globo.
Esse é o limite da democracia brasileira. Qualquer coisa além disso, no Brasil, é revolução. Não é por acaso que o Brasil foi um dos últimos países do mundo a libertar os escravos. Este é um dos únicos países do mundo em que os jovens são reacionários e se tornam mais reacionários ainda ao amadurecer.
Mas prefiro acreditar, ainda, que o copo está meio cheio. Prefiro acreditar que outros leitores de jornais, telespectadores de televisão e ouvintes de rádio farão o mesmo que o vendedor de autopeças e cronista Eduardo Guimarães. Ele foi um dia um simples leitor desconfiado da Folha de S. Paulo. Que não se conformou com o que lia. Que criou um blog. Que congregou, sozinho, alguns milhares de leitores. E que segue em frente na tentativa de consolidar o primeiro movimento de protesto nascido de leitores de notícias inconformados.
Também vejo o copo meio cheio quando se noticia o Fórum de Mídia Livre e o Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação, o ENECOM 2008, ambos marcados para acontecer no Rio de Janeiro.
"Eu organizo o movimento, eu oriento o Carnaval", dizem os estudantes de comunicação, numa alusão ao hino da Tropicália. É exatamente isso que me conforta: tem, sim, gente que pensa diferente fazendo coisas.
O autor é Jornalista e Blogueiro
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