Raphael Prado
O cargo que podia terminar no paredão de fuzilamento, à espera da sentença política nos últimos dias, já foi dele. Ele já passou pelo fuzilamento. E caiu. José Dirceu de Oliveira e Silva foi o primeiro ministro-chefe da Casa Civil do governo Lula, cargo hoje ocupado pela ex-companheira de guerrilha, Dilma Rousseff.
Nesta conversa exclusiva com Terra Magazine ele comenta a divulgação, pela revista Veja, de um suposto dossiê com gastos pessoais do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e da ex-primeira-dama, Ruth Cardoso. E também a informação divulgada pelo Blog do Noblat e confirmada em Terra Magazine de que o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) foi um dos informantes da revista semanal:
- Quem devia ser processado por quebra do decoro e por conspirar para derrubar uma ministra de Estado é o senador Álvaro Dias. Porque isso é uma conspiração política. Está evidente.
Dirceu deixou de ser o braço-direito do presidente após o escândalo de que seria ele o operador do que ficou conhecido como mensalão - uma suposta compra de parlamentares pelo apoio no Congresso Nacional.
Para o ex-ministro e também ex-presidente do PT, o episódio teve a clara intenção de atingir Dilma Rousseff. A atual ocupante da Casa Civil, é sabido, está nos planos petistas para candidata à sucessão do presidente Lula. Ministra e governo, diz Dirceu, são "vítimas" desse caso:
- Foi para atingir a ministra (Dilma Rousseff) e foi organizado. Porque é evidente que toda a cúpula tucana sabia que o senador Álvaro Dias era a fonte e tinha as informações.
Terra Magazine - O que o senhor achou desse caso todo?
José Dirceu - É uma conspiração, na verdade. É gravíssimo. Não é só um ilícito, um crime vazar dados sigilosos. Ninguém quebra sigilo, o sigilo se transfere. E a autoridade que o recebe legalmente tem que preservá-lo. Parlamentar não pode, a legislação não permite que um parlamentar possa abrir um sigilo do qual ele é responsável. No caso, foi para atingir a ministra (Dilma Rousseff) e foi organizado. Porque é evidente que toda a cúpula tucana sabia que o senador Álvaro Dias era a fonte e tinha as informações.
Como o senhor acha que ele obteve essas informações?
Ah, isso é uma coisa que ele precisa explicar. Alguém lhe passou essas informações. E os dois são responsáveis, criminalmente, por terem vazado essa informação.
Então houve alguém no governo também que estava comprometido com isso?
A hipótese mais viável é essa, mas isso precisa ser comprovado. O que já está comprovado é que o senador Álvaro Dias foi a fonte da Veja e teve acesso às informações. E que não existe um dossiê, isso fica provado agora também. Que não foi feito dossiê nenhum.
Nessa conspiração a que o senhor se refere, existe participação da mídia?
Veja bem... da maneira que a Veja, sabendo que a fonte era um senador tucano, se comportou, e evidentemente pode se amparar no sigilo da fonte que a Constituição garante, mas é evidente que há conivência. No mínimo uma conivência. E insistir, como a Folha de S.Paulo continua insistindo, que o governo ou a ministra-chefe da Casa Civil têm que dar explicações sobre um dossiê... O que tem que ser cobrado agora é a cúpula tucana. Como eles, sabendo que essa era uma informação que o senador Álvaro Dias teve acesso e passou para a revista, enganaram o País todo? Pararam, praticamente, a CPI dos Cartões Corporativos em torno de um dossiê que eles sabiam que não existia.
Mas o próximo passo de quem divulgou os dados não vai ser justamente continuar vinculando o vazamento ao governo?
Mas por que prejudicaria o governo se o governo não teve participação, não foi conivente? Está evidente já que o governo é vítima. Porque nesse caso, o governo, a ministra Dilma, são vítimas. E não autores de qualquer tipo de ação política ou ilegal como vazar informações confidenciais.
Só que esses dados, seja um dossiê ou não, foram elaborados por alguém.
Mas uma coisa é estar no governo, outra coisa é ser governo. Uma coisa é ser funcionário do governo, outra coisa é ser orientado, instruído pelo governo. Isso é preciso esclarecer.
Esses gastos pessoais do ex-presidente Fernando Henrique e da ex-primeira-dama, provavelmente, o próprio PSDB tinha, já que é o partido do ex-presidente...
...é evidente que eles tinham.
O senhor acha possível que eles próprios, psdbistas, tenham elaborado esse "dossiê"?
Não é improvável. Não diria que é impossível. Não diria que é impossível. Isso é preciso apurar, mas eu não diria que é impossível. Da forma como eles se comportaram, da maneira como eles enganaram o País, tudo é possível. Inclusive que isso tenha sido, na verdade... que eles tenham elaborado um dossiê. E não o contrário.
Qual é a perspectiva do desfecho desse caso?
No meu ponto de vista, como cidadão, esse caso está encerrado. O que precisa agora é a sindicância que existe na Casa Civil, ou autoridade competente, esclarecer a fonte. O próprio senador Álvaro Dias pode declarar qual foi a fonte dele. Resolve todo o problema.
E na CPI dos Cartões, essa história de convocar a ministra Dilma...
Não vejo nenhum sentido mais nisso. Quem tem que dar explicações ao País é o senador Álvaro Dias. Quem devia ser processado por quebra do decoro e por conspirar para derrubar uma ministra de Estado é o senador Álvaro Dias. Porque isso é uma conspiração política. Está evidente. Ela é pública, ela foi desvendada totalmente.
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