segunda-feira, 17 de março de 2008

CRISES INVENTADAS PELO PIG

O "Movimento dos Sem Mídia" protocolou hoje uma representação no Ministério Público Federal contra o alarmismo da mídia ao noticiar uma suposta epidemia de febre amarela no Brasil.

Leia a Intrevista que o Presidente dos Sem MÍDIA deu ao Paulo Henrique Amorim

Conversa Afiada – Eu queria que o senhor me explicasse um pouco o teor dessa representação no Ministério Público em relação a esse episódio da febre amarela na mídia.

Eduardo Guimarães - Pois, não. O que acontece é o seguinte. Nós acompanhamos, eu acho que o Brasil inteiro, as pessoas mais esclarecidas acompanharam um processo em que o meio de comunicação apostou uma corrida com outros, grandes meios de comunicação, no sentido de disseminar uma pseudo-epidemia, uma epidemia imaginária de febre amarela que, segundo dados do Ministério da Saúde, que nós estamos recolhendo, dados oficiais, já provocou, ao menos, uma morte de uma senhora de 79 anos por ter se vacinado sem necessidade. Essa pessoa não iria viajar para nenhuma área de risco, tinha um organismo incompatível com a vacina, assustada pelo noticiário alarmista, para se ter uma idéia foram dezenas e dezenas de capas de jornais dos principais meios de comunicação do país alarmando a população. De fato houve um alarmismo reconhecido pelo ombudsman da Folha de São Paulo, reconhecido até pela própria Folha de São Paulo em um editorial dizendo que a hipótese de epidemia tinha sido magnificada pela mídia, sendo que ela mesma foi um dos veículos que está sendo representado. Depois da porta arrombada, depois que morre gente, no fim de tudo aqui... Eu acredito que a sociedade tem que agir de alguma maneira e a ONG que nós fundamos foi criada com essa finalidade, de pedir uma mídia ética, uma mídia plural, uma mídia sobretudo, antes de tudo e acima de tudo responsável.

Conversa Afiada – Na representação a ONG Movimento dos Sem Mídia pede algum tipo de penalidade a algum meio de comunicação? Existe algum foco?

Eduardo Guimarães - Os focos são... Nós estamos fazendo uma representação contra o Grupo Folha, contra o Grupo Estado, contra a Editora Abril, contra o Correio Brasiliense (que talvez tenha sido o pior veículo em termos de alarmismo), Jornal do Brasil. Têm duas capas, uma da Veja e outra da IstoÉ, no mínimo duas se eu me recordo, incrivelmente alarmistas. A revista IstoÉ nós temos também representada. Mas a representação diz ao Ministério Público o seguinte, seria impossível nós representarmos contra todos os veículos que embarcaram nessa onda. Então nós escolhemos aqueles veículos de maior expressão pedindo ao Ministério Público que investigue a nossa teoria, estamos oferecendo elementos para ele, noticiários, vídeos (nós estamos entregando o CD-ROM com programas de telejornais), matérias de jornal e estamos pedindo ao Ministério Público que investigue e nessa investigação, se for contatado o que aconteceu, nós pedimos, inclusive, que o horário seja ressarcido o gasto adicional de vacinas, o dispêndio de dinheiro público que deve ter sido enorme, porque o preço da dose está em torno de R$ 0,90, pelo que nos foi informado, dados do Ministério da Saúde. Nesse gasto, são milhões de vacinas de pessoas que tomaram essa vacina sem necessidade. Eu mesmo tenho gente na minha família, o noivo da minha filha, que é diabético, não ia para área de risco nenhuma, mas tomou a vacina, passou muito mal. Eu tenho um amigo que está com um câncer na garganta, está com a imunidade baixa, ia se vacinar e eu pedi a ele que antes conversasse com o seu médico e o médico proibiu. Então, além disso, teve um gasto exagerado de dinheiro público à toa, para vacinar gente que não precisava da vacina. Nós estamos pedindo que se Ministério Público fizera a denúncia o a Justiça entender que houve realmente os fatos que nós estamos relatando, que peça a devolução, a esses veículos que foram condenados, desse dinheiro.

Conversa Afiada - Senhor Eduardo, o senhor já citou isso, mas eu gostaria de detalhar um pouco mais, sobre como a representação se documenta. Que tipo de material vocês conseguiram compilar para essa representação?

Eduardo Guimarães - Olha, na verdade a dificuldade foi escolher o principal, porque a quantidade de material que existe é enorme. Nós fazemos uma representação onde narramos os fatos de forma mais superficial, depois temos o anexo um, com reprodução de matérias de jornal... Na verdade a representação se baseia em um clipping que a Radiobrás publica na internet dia-a-dia com as manchetes dos principais meios de comunicação. Então, isso forma uma linha cronológica que vai do dia 29 de dezembro ao dia 1º de fevereiro. Então, se nós compusermos um gráfico, a linha desse gráfico ia começar lá embaixo, no dia 29 de dezembro, iria subindo até meados de janeiro e depois iria caindo até o final do mês, começo do mês seguinte. Então você vê a série claramente no noticiário o aumento e o embarque de todos esses veículos em matérias de capa dos principais jornais e, acompanhando esse clipping da Radiobrás, nós estamos anexando matérias importantes como uma coluna da Eliane Cantanhêde, da Folha de São Paulo, onde ela diz, sem mais nem menos, “vacine-se seja você de onde for e antes que seja tarde”, ela diz uma coisa assim. E todas essas manchetes de primeira página de jornal, em nenhum momento, do mês de janeiro, elas alertaram a população sobre o fato de que essa vacina é uma vacina perigosa, de certa maneira, para ser tomada aleatoriamente. Você inocula o vírus da febre amarela, o vírus atenuado. Você provoca uma pequena febre amarela no indivíduo, que é a famosa reação. Se a pessoa tem algum problema de imunidade ou mulher grávida, ou criança... Então essas manchetes de jornal são um veículo de comunicação a parte. De cada dez pessoas, uma lê jornal e nove lêem manchetes que estão nas bancas. É só você passear por São Paulo e você vai ver, nas primeiras horas da manhã, as bancas de jornal com as pessoas postadas nas bancas lendo as manchetes. Então, aquilo é um meio de comunicação à parte. Quando você tem manchetes que induzem a sociedade ao alarmismo, ao medo de contrair febre amarela urbana, uma modalidade da doença que não existe há 60 anos, foi erradicada no Brasil há 60 anos, e quando você compara a cobertura deste ano, em que você teve duas mortes confirmadas por febre amarela e duas dezenas de casos, com 2000, quando houve 85 casos confirmados e 40 mortes e você nota que lá atrás não foi feito alarmismo nenhum e hoje foi feita uma verdadeira guerra na imprensa, dizendo que haveria essa epidemia, você vê que por alguma razão eles escolheram esse ano com um recrudescimento natural, porque aumentam os casos da doença em ciclos de sete, oito anos, é previsível. Quer dizer, não foram ouvidos especialistas, infectologistas adequadamente pela imprensa ou, se ouvidos, na pior das hipóteses, foram ignorados, o que é muito mais grave. Então, nós estamos tomando uma atitude. Eu acho que alguém tem que por o guiso nesse gato e nós vamos por, porque é isso que nós nos propusemos quando criamos essa ONG.

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