quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

ANÁLISES e OPINIÕES

AS DUAS CARAS DO POS-LULISMO


Por Tiberio Alloggio(*)

2008 é ano de eleições. No mundo, as mais importantes ocorrerão nos Estados Unidos. No Brasil teremos as municipais, um teste importante com vista nas presidenciais de 2010.

O processo eleitoral norte-americano, como se sabe é muito diferente do brasileiro, a sua característica mais importante é dar um rosto aos partidos. Nos Estados Unidos o partido é algo intangível, é o candidato, que o torna tangível. É o candidato que acaba dando uma imagem ao partido, uma marca, um significado, que é captado por eleitores e correligionários, e esse processo ocorre dentro de uma disputa previa nos partidos.

As prévias servem para mobilizar o eleitorado e fazê-lo participar mais ativamente do processo político. Nesse processo podem aparecer vários rostos, que acabam por convergir num só: o do candidato oficial.

No Brasil, os partidos, feito exceções, não têm cara.

O maior partido nacional é o PMDB, seja em número de filiados como de congressistas, e lidera nos maiores colégios eleitorais onde o partido não tem cara, ou a sua cara é uma liderança não governamental ou parlamentar.

Em São Paulo, a cara do PMDB é Orestes Quércia. No Rio de Janeiro tem duas caras, a de Garotinho e a do Governador Sérgio Cabral. No Pará é a do Jader Barbalho enquanto em Santarém é a cara de Antonio Rocha.

O PMDB é um conglomerado de partidos regionais, sem uma proposta para o Brasil. O seu fundamento é fisiológico: tem filiados, tem votos para trocar por cargos no Governo Federal.

O segundo partido em número de filiados é o PP, sua cara histórica, no bem e no mal, foi a de Paulo Maluf que, embora tenha sido o deputado mais votado, hoje é carta fora do baralho. No Pará e em Santarém o PP já teve muitas caras, mas nenhuma que o povo pudesse recordar. Qual é hoje a mensagem do PP à sociedade? Nem eles a conhecem.

A cara do PSDB continua a de FHC. Tem sim, Serra, Aécio e Alckmin. Mas que mensagem eles passam? O que é ser tucano hoje, depois de Azeredo, do fracasso de FHC, e da CPMF? O PSDB só sobrevive da contraposição ao PT e ao Lula. A sua agenda positiva envelheceu e enfraqueceu. Não tem demonstrado nenhuma capacidade de renovação.

Aécio é uma nova geração, mas com uma trajetória pessoal que lhe garante o crescimento político autônomo, por isso, a não ser em Minas, não tem a cara desejada pelos tucanos. Alckmin teria sido outra renovação, mas já demonstrou que não passa de um político menor. No Pará, com a “morte política” de Almir Gabriel, ao PSDB sobraram os sem carisma com cara de Simão Jatene. Enquanto em Santarém a cada pleito os tucanos mudam de cara, agora é a vez do Alexandre Von, mas até quando?

Entre os maiores, o DEM, é o único que está encolhendo em todo o País. É um partido que alem de filiados, perdeu a sua cara principal (Bornhausen e ACM), mudou de nome várias vezes, e hoje está em busca de mais uma identidade. Gilberto Kassab (São Paulo) em tese, é o que teria chances de se firmar, mas é muito pouco para o nível nacional.

No Pará tem a cara jovem de Vic Pires e de sua mulher, porem são figuras que nunca passaram de coadjuvantes, do Jader, ou do Almir. Em Santarém o DEM ficou com cara do grupo político de Lira Maia, cuja mobilidade política o torna mais um representante da bancada ruralista, que um líder partidário. O futuro do DEM no Pará e no Brasil é nebuloso.

A cara do PT no Brasil é o Lula, não têm outras. Há sim lideres regionais, mas com força e carisma pessoal limitado para firmar nacionalmente a imagem do partido. Lula está tentando promover Dilma Rousseff como nova cara do PT, mas pode não funcionar.

Lula poderia transformar o PT no maior partido brasileiro, mas não parece ter interesse nisso, prefere não se envolver. Por isso nos Estados, mais que um partido, o PT se parece um arquipélago de ilhas em eterno conflito. No Pará o PT que já foi Paulo Rocha, Edimilson Rodriguez, hoje é Ana Julia, enquanto nos municípios já são outros arquipélagos. Só em Santarém o PT tem cara histórica que vem se consolidando no Estado, a da Maria do Carmo.

Lula está repetindo na Presidência o que liderou no ABC, quando surgiu como líder sindical. O seu propósito sempre foi fazer com que, os metalúrgicos que produziam TVs, fogões e geladeiras, pudessem tê-los em suas casas. Conseguiu, e com isso chegou à Presidência.

Na Presidência da República, Lula, vem promovendo profundas mudanças no tecido social do País, fomentando o emergir na sociedade de consumo, de uma nova classe média, e media baixa. Deu impulso a um "moto contínuo" de crescimento trazendo para o consumo, milhões de pessoas.

Não só pelo “Bolsa Família” ou pela assistência social, mas principalmente pela multiplicação da renda transferida aos mesmos. É fato que hoje no Brasil há uma classe média emergente, e que as grandes empresas já estão captando-a.

Enfim, quais serão os partidos e lideranças políticas que irão capturar esses eleitores, essas novas camadas sociais? Lula conseguirá transferir para alguma outra figura, o seu prestígio pessoal? Ou surgirá algum novo político, com sensibilidade para transmitir uma mensagem a esse público? A conferir.


O Autor e Sociólogo e escreve em vários blogs

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