LULA E MAQUIAVEL
Por Tiberio Alloggio
Os que entendem de política sabem que em todo processo político, nada é linear e tampouco transparente. O que transparece esconde sempre intenções não manifestadas e, objetivos não declarados.
A luta pelo poder visa, sempre, à eleição subseqüente ou mesmo as subseqüentes. Ela é um objetivo estratégico, de longo prazo, onde cada fato, nessa perspectiva, não passa de um fato.
Olhando por essa lente os acontecimentos sobre a CPMF ganham um outro perfil onde vitória ou derrota tem que ser medidas com outros instrumentos. Engana-se quem acha que o placar da votação sobre a CPMF definiu um vencedor ou um perdedor. Por isso, talvez, só Maquiavel possa nos ajudar a entender melhor o fato em si, e a ação de seus protagonistas.
Lula, notoriamente, se notabilizou como líder sindical, com extrema capacidade de negociação que com sabedoria levou para o campo político. Foi a arte da mediação (que Lula domina) que o levou ao atual patamar.
Olhando todo o processo de negociação para aprovação da CPMF, Lula parece ter sido tão incompetente que até caberia indagar se perdeu essa sua arte (coisa bem improvável). Ou se, paralelamente, alem desse dom, Lula desenvolveu outro, com objetivos maquiavélicos, para fazer do "limão uma limonada". Ou seja, fazer de uma derrota momentânea uma vitória estratégica.
O PSDB firmou uma posição para transferir a CPMF em 2008, evitando a sua prorrogação. Não sendo aprovada a prorrogação essa se extinguiria automaticamente. Mas deixaria a possibilidade de ser reinstituída.
A argumentação principal contra a CPMF, era evitar conceder recursos adicionais ao Governo. Na verdade não queriam sancionar a emenda constitucional por medo de um terceiro mandato de Lula. Queriam demonstrar que o Governo não tem no Senado a forca numérica para qualquer emenda constitucional. As razões reais da atitude da oposição não eram as que eram ditas.
Lula, sempre soube que com o crescimento econômico o Governo Federal não precisa efetivamente dos recursos da CPMF para manter o equilíbrio das suas contas. Assim como sabia que os governos estaduais e municipais precisam, por isso esperou até o prazo final para votá-la no senado.
A jogada final de Lula quando, já em fase de votação, comprometeu-se a passar todos os recursos da CPMF para a saúde, como “äparentemente” exigia o PSDB, pode explicar melhor sua atitude maquiavélica. Com isso Lula (que não é nenhum ingênuo) esperou a resposta que já sabia vir da oposição: É tarde demais para negociar!
Em primeiro lugar, Lula sabe que nunca é tarde demais para negociar. Ele como bom corinthiano segue a máxima de Vicente Matheus de que "o jogo só acaba quando termina". Em segundo lugar Lula, como líder sindical, sempre esteve do outro lado, usando essa argumentação junto aos patrões quando chegavam com uma proposta de última hora para evitar uma greve declarada.
Ao forçar a votação ainda sem a segurança dos 49 votos, podem-se ter duas interpretações em relação à condução de Lula do processo: a incompetência, ou objetivos "maquiavélicos".
A incompetência na negociação, arte que Lula domina é bem improvável.
A segunda interpretação, a maquiavélica, leva ao objetivo de transformar uma derrota
A suposta unidade do PSDB votando em bloco contra a CPMF é falsa, e a alternativa de Lula em 2010 parece ser Aécio Neves, inclusive fora do PSDB. Lula teria procurado sinalizar ao Aécio de que ele não terá futuro dentro do PSDB, e que a partir de 2009 poderá até sair do PSDB, mesmo com a perda do mandato de Governador. Todos sabem que Aécio já se preparou para isso.
Teria sido apenas uma sinalização ou algo mais? Pode. Mas pode ter sido uma conspiração, pois se sabe que Lula nunca foi bonzinho. Nenhum líder político, inclusive Aécio, se sustenta sem o seu lado mau.
Enfim, a oposição demonstrou o que queria. Lula não terá condições de propor uma emenda constitucional para um terceiro mandado e que não aceita um terceiro mandato consecutivo.
Mas era esse mesmo o desejo de Lula, ou a oposição caiu numa armadilha? Se for isso, o PSDB estará fora, sem chance nenhuma de voltar ao Planalto em 2010. Nesse sentido, o resultado da votação no senado foi também um recado para os petistas. Esqueçam a re-reeleição e vamos trabalhar num plano estratégico de longo prazo!
Em política nada é o que parece. A conferir.
O Autor é Sociólogo e escreve em vários Blogs
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