Em suas colunas, nunca utilizou de palavras agressivas, nem leviandades. Mesmo sabendo que ocupava um dos espaços mais importantes do jornalismo brasileiro: a principal coluna de política de O Globo.
Nunca torceu para a derrota do país, por motivos partidários (coisa muito comum na Rede Globo), nem escondeu os equívocos.
É respeitada por todos os governantes que ocuparam o cargo mais alto do país. Pela sua independência, foi agredida por jornalistas de esgoto, mas silenciou e os deixou falando sozinhos.
Manteve-se como um mulher firme, sem ceder ao bate boca fácil. Porque sabia que era mais nobre do que o apelo fácil à ignorância.
Teve uma relação saudável com os muitos políticos, mas jamais deixou de ser crítica. E não confundiu posicionamento crítico, com alinhamento a qualquer face. Merece esse cargo. Teresa Cruvinel agora é a diretora da TV Pública.
Se os muitos governos respeitarem a independência da nova tv brasileira (coisa não fácil), teremos certeza que ela saberá manter o jornalismo público em sua decência, longe dos apelos fáceis do mercado e da politica como interesse.
Teresa, nos anime a ver no jornalismo o seu lado mais positivo. O serviço ao interesse público, independente dos partidos e dos patrões.
Um comentário:
Muitos não entenderam - e eu, de início, tampouco entendi - a escolha da agora ex-jornalista de O Globo Tereza Cruvinel para dirigir a tevê pública federal, que se encontra em fase de gestação. Nas horas mortas da madrugada, porém, quando a mente, a despeito do cansaço decorrente dos meus dias cheios, deveria clamar por repouso é que as idéias me afloram e o pensamento clareia.
Por que Cruvinel? Apesar de não gostar de generalizar, hoje acho muito difícil - porém, não acho impossível - que um jornalista sério permaneça em meios de comunicação tão ruins, tão tendenciosos e desonestos quanto os que se abrigam sob a marca Globo. A escolha dessa jornalista, portanto, representaria, por parte do governo, quase que uma chancela ao jornalismo de um império midiático apodrecido como são as Organizações Globo.
Mas qual seria o correto? Escolher algum jornalista simpático ao PT? Em minha recém-formada opinião, não. A visão de Lula - e dos que certamente o ajudaram a tomar essa decisão -, pensando bem, parece-me, se não correta, ao menos honesta.
É preciso lembrar que Lula não é dono da Presidência da República e que, seja em 2011 ou em 2015, ou sei lá quando, os conservadores voltarão ao poder. Se Lula tomasse a decisão de colocar no comando da tevê pública federal um jornalista identificado com a corrente política que está no poder, daria o direito de um eventual sucessor adversário fazer o mesmo. É preciso, pois, demonstrar que não se quer fazer da emissora suscetível às idiossincrasias do governo federal o mesmo que faz o governo paulista com a tevê Cultura, por exemplo.
É claro que essa nobreza toda pode se transformar na perda de uma oportunidade de ouro de fortalecer o partido que está no poder usando uma tevê de alcance nacional, com orçamento bem maior do que o de muitas redes privadas. Duvido muito de que quando a direita recobrar o poder - e ela o recobrará em algum momento - abrirá mão de usar a tevê federal em benefício próprio, pois os governos conservadores paulistas, por exemplo, vêm usando a tevê Cultura em proveito próprio. Mas se este governo não se utilizar desse expediente, quem ganhará será o país. Se o povo não enxergar isso e recolocar a direita no poder, merecerá o malefício da transformação de uma tevê pública em tevê estatal.
A escolha de Cruvinel, portanto, demonstra cabalmente que o governo Lula não procederá como os da vertente política que a ele se opõe no que diz respeito ao uso político de meios de comunicação sob influência dos Poderes Executivos. Esse é, para quem tem discernimento, um grande passo para o país - o passo de um governo não utilizar o poder que tem conjunturalmente para obter lucros políticos.
Questione-se a competência de Cruvinel, questione-se sua "origem" global, questione-se muito sobre alguém que aceitou permanecer por tanto tempo num dos veículos mais golpistas e desonestos de todos, se não o mais golpista e desonesto. Mas não haverá que se questionar a seriedade com que Lula está tratando a criação da tevê pública federal. E em não se podendo fazer isso, o lucro político, entre os mais informados, virá do mesmo jeito. E pelas razões certas.
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