quarta-feira, 10 de outubro de 2007

O MUNDO QUE MUDA

A entrevista de Aguinaldo Silva para a Folha de S.Paulo de quinta-feira ("2 Caras desaba; autor culpa DVD e Orkut", 4/10/2007) sintetiza o que todos sabem, mas as emissoras de televisão fingem que não existe: a era da massificação acabou.

A novela das 8 está fazendo 35 pontos, o que não acontecia há dez anos. Mas não está sozinha. O Fantástico estacionou em pouco mais de 20 pontos. Nos bons tempos chegava a cravar 65. O Casseta e Planeta não passa dos 25. E o próprio Jornal Nacional está amargando a casa dos 30. A Record e o SBT disputam o segundo lugar com médias mensais entre os 6 e 7 pontos.

O público não está migrando para outras redes. Está caminhando na direção de outras mídias. "Agora até as criancinhas estão viciadas em Orkut", diz Aguinaldo. Não só em Orkut e não só as criancinhas. As pessoas estão desligando seus aparelhos de televisão e ligando seus computadores. Cerca de 36% dos televisores brasileiros estão desligados em pleno horário nobre. Isso nunca havia acontecido.

O índice vai cair muito na medida em que o brasileiro tenha acesso à internet em banda larga. E os televisores que estiverem ligados estarão cada vez menos construindo o imenso bloco dos cidadãos que precisam ser parte da audiência massiva para fazer parte da sociedade.

O jovem, que tem acesso a inúmeras fontes de informação, sobretudo mas não apenas pela web, olha para a sua televisão e tudo aquilo lhe parece uma idiotice. Bota o seu fone de ouvido e vai procurar a sua turma.

Não há um único argumento no mundo para sugerir que ele esteja errado. Durante muito tempo a sociedade brasileira via a sua televisão e não sabia o que poderia existir do lado de fora da gaiola. O que as novas mídias fizeram foi abrir a porta da gaiola. Levará menos de uma geração para que o modelo de programação desenvolvido pelas emissoras vá parar num museu antropológico.

Disso não escapa, é claro, a qualidade da informação jornalística. Antes mesmo que a informação objetiva apareça, o tratamento dado a quem vai consumi-la é bizarro. Que credibilidade pode ter quem se dirige a nós como idiotas?

O entorpecimento promovido pela própria televisão - que faz com que o espectador, devidamente lobotomizado, pareça não perceber como está sendo tratado, pretenda não saber qual é o passado da fonte da informação "isenta" que lhe está sendo passada - está tendo a sua resposta no comportamento das novas audiências, para as quais a gaiola está aberta e que se espantam, sim, vendo no televisor dos seus pais uma dramaturgia incrivelmente primária, um cardápio de atrações que parecem saídas de um circo de horrores, uma informação com sabor de hipocrisia que parece saída de um mundo construído sabe-se lá por quem.

Esse novo espectador está virando as costas a tudo isso. A informação que está procurando fala da sua tribo, dos seus anseios, da sua atitude, da sua visão do mundo, que certamente não é a visão filtrada pelos que estão comprometidos com a possibilidade de emburrecê-lo.

O problema não está no 2 Caras, mas no que essa novela - e toda a programação que gira em sua volta - representa. Ontem, quem não via essa programação não fazia parte do mundo. Hoje, é justamente o contrário.

Um comentário:

Anônimo disse...

Estou com mais de 50 anos, mas me livrei faz tempo dessa praga.