terça-feira, 2 de outubro de 2007

CULTURA e CONTRA CULTURA

A ENTREVISTA DE MANO BROWN, O RAPPER EVANGÉLICO E REVOLUCIONÁRIO DOS RACIONAIS

O rapper Mano Brown foi o entrevistado do Roda Viva. Quem não viu o programa deveria comprar o vídeo. De forma direta, ele toca nas feridas das muitas cidades partidas em que vivemos.
Depois de mais de uma década de boicote à grande imprensa, Mano Brown, maior nome das periferias brasileiras, foi ao encontro da mídia. Esta semana esteve no Roda Viva, da TV Cultura, o mais prestigiado (um dos únicos) programa de debates da televisão aberta.
O rapper foi autêntico. Emitiu opiniões controversas e diretas que quase nunca (ou nunca) são defendidas nos grandes meios de comunicação do país.
Falou de traficantes, camelôs e torcida organizada. Cuba, socialismo, os evangélicos e o candomblé.
Apontou pontos fortes e fracos da política de combate à pobreza. Defendeu as cotas para negros nas universidades - "isto é o mínimo", disse.
Defendeu o presidente Lula e a conduta dele diante dos últimos casos de corrupção. Defendeu o líder sem-terra José Rainha, a ex-prefeita Marta Suplicy e os seus CEUs.
Atacou a Ambev. Atacou a pinga 51. Desdenhou do governador de São Paulo, José Serra. Desdenhou da Nike e da Adidas.
Rechaçou o papel de herói. Expôs fragilidades próprias. Manteve o controle das ações. Foi respeitoso, e impôs respeito.
Por sua vez, a banca de entrevistadores não foi contundente. Parecia sofrer de algum tipo de paralisia momentânea e coletiva. "Ta suave até agora, tô até estranhando", notou o próprio Brown.
Estavam lá jornalistas e estudiosos de gabarito, que já haviam participado do programa e de outros debates com desenvoltura. A bancada não acusou Brown de ser generalista na sua crítica a policiais. Não o acusou de fazer apologia ao crime. Não o questionou sobre o tumulto da Virada Cultural, em São Paulo.
Não o questionou claramente sobre o que pensa das elites. Nem sobre o que pensa da classe média, da mídia e de uma política de segurança possível.
Esteve tímida e constrangida. Teve medo do líder dos Racionais MC's. E demonstrou pouco conhecimento dos valores da periferia, sem admiti-lo.
A cada declaração desconcertante de Brown se sucedia um silêncio pesado, tensão, desconforto. "O que vocês chamam de traficante, chamo de comerciante, o cara que comercializa cocaína". Ou: "O dono da 51 não tira cadeia. A Ambev não tira cadeia. Se você tomar quatro latas de cerveja, você vira super-homem na Marginal", disse o rapper.
Ou ainda: "os nossos amigos, da nossa família, do nosso parceiro, das caras que estão lado a lado, muitas vezes é o traficante", disparou.
Brown pronunciou idéias e palavras estranhas aos ouvidos de todos. Simpáticas ou antipáticas, são impressões tiradas do ângulo da periferia. E este ângulo não tem espaço cativo na nossa grande imprensa.
A grande imprensa, fala cada vez menos com a periferia. Já faz um tempo que estes moradores deixaram de levar esta mídia em conta. Isso é fruto de um distanciamento imenso. Representantes de comunidades e a mídia da periferia provavelmente estariam mais à vontade para questionar Brown.
Um encontro verdadeiro entre a mídia e a periferia será benéfico para a sociedade. Isso acontecerá quando representantes das comunidades forem presença generalizada nas redações. E quando as demandas e expressões periféricas tiverem a cobertura que merecem.
Este processo já está em curso. Por enquanto, a grande mídia está de fora. Cada vez mais isolada, paralisada e com medo.
A Revista Fórum teve Mano Brown como seu entrevistado do mês na edição número 1. Faz exatamente 6 anos. Para quem viu o programa, vale a pena ler a entrevista para verificar o quanto há de coerência no discurso de Brown. Quem não viu, pode ler como se Mano Brown falasse hoje.

5 comentários:

Anônimo disse...

Porter, e sobre a população evangélica (ou pretensamente evangélica) o que disse?

Ir. Aldrin Araújo

Anônimo disse...

Religião:
"Eu freqüento uma igreja evangélica pentecostal aqui da quebrada. Eu já simpatizei com o candomblé. Agora, quando minha família ia ao candomblé não tinha nem pra comer. O candomblé mexe com coisa que não é da alçada do ser humano. Eu acho que existe uma força maior. Acredito em Deus, que Jesus existiu mesmo, que ele fez o que falam. Não que eu vá seguir pessoas. Se eu tentar me espelhar num crente, vou me danar. Tem que ir pela palavra, não num ser humano que é igual a mim. Todo mundo quer analisar a religião pelas pessoas. Você pode encontrar pessoas boas e pessoas más numa igreja. Você não pode seguir o homem, mas a palavra. Se fosse pra seguir o homem não existiria Deus e essas coisas. Como pode existir a criatura? Precisa de criador. É outro assunto."

Anônimo disse...

É... Mano Brown não está muito distante do reino de Deus.

Ir. Aldrin Araújo

Anônimo disse...

ai mano braw paz do senhor eu visitei o seu site porque eu queria tirar uma duvida dos meus colegas que disiam que vc ñ era evangelico, e eu disia que vc é beleza fica na paz...

Anônimo disse...

ai mano braw paz do senhor eu visitei o seu site porque eu queria tirar uma duvida dos meus colegas que disiam que vc ñ era evangelico, e eu disia que vc é beleza fica na paz...