sexta-feira, 19 de outubro de 2007

ANALISES e OPINIÕES

ANATOMIA DA DECADÊNCIA POLÍTICA

Por Tiberio Alloggio (*)

A crise de um político pode ocorrer por diversas circunstâncias, mas a sua “permanência” como político, sempre dependerá do apoio popular, pois essa é a regra de todo e qualquer sistema político.

O Norte e o Nordeste do Brasil, por obvias razoes sociais, econômicas, e culturais, desenvolveram nos últimos 40 anos, uma safra de políticos pra lá de originais. Esses políticos surgidos como caciques eleitorais familiares, restritos aos próprios estados, souberam associar o carisma pessoal com uma atuação política patriarcal e truculenta, aprimorando a arte de se aproximar ao Poder Federal e levando benefícios para a si próprios e aos seus estados. Essa safra que se manteve estável durante décadas, entrou em uma crise irreversível nesses últimos anos.

Os processos políticos nunca se desenvolvem de forma linear, e para melhor compreendê-los torna-se fundamental tentar entender alguns elementos chaves que compõem a roda da manutenção no poder: A infra e a super-estrutura política, a safra e entressafra eleitoral, e os benefícios aos eleitores, pois é nesse circulo de relações que ocorre o sucesso ou a queda de um político de poder.

Obviamente tais considerações cabem no sentido geral, mas valem o dobro quando se trata da carreira política de caciques do porte do recém falecido ACM, José Sarney, Renan Calheiros, Jader Barbalho que (entre outros) ao longo dos anos, tornaram-se políticos dos mais influentes deste País. Uma safra que soube desenvolver a arte de girar a roda do apoio popular para conquistar o poder, usar o poder para distribuição de benefícios para manter ou ampliar o apoio popular, e reforçar o próprio poder.

O estilo político é parecido ao dos velhos coronéis, de bom trato com amigos, correligionários e eleitores, e truculentos, impiedosos com inimigos e traidores. Gozam do respeito dos correligionários porque eles são “donos do eleitorado", não apenas pelos benefícios que levam para a população, mas também porque desenvolveram uma “marca”, ou como no caso de ACM, uma figura mítica, a do "painho".

Habilidosos na proximidade e na influência sobre o poder central levam benefícios aos seus Estados. Obviamente uma influência insuficiente para eliminar a pobreza e as desigualdades, mas suficiente para vender uma imagem de "desenvolvedores" e manter o "curral eleitoral", do qual todos os correligionários dependem para se eleger, ou para ter cargos nos governos. Uma distribuição comandada com "mão de ferro", mas sempre sustentada pelo apoio eleitoral.

Uma condição tipicamente regional, sem força nacional ou até mesmo contestada nos grandes centros desenvolvidos do Brasil. Por essa razão nunca tentaram disputar a Presidência da República, ainda que tenham sido fundamentais para a eleição de diversos presidentes.

A decadência dessas figuras políticas iniciou-se em 2002 com a vitória de Lula e do PT. Uma vez no poder, Lula desenvolveu uma política social ancorada na universalização dos programas sociais. Introduziu o aumento real e geométrico do salário mínimo, e integrou melhorando os serviços de educação, saúde e infra-estrutura. Com isso Lula foi conquistando e integrando em programas nacionais o eleitorado até então fiel aos caciques regionais, passando a disputar com eles o lugar de "painho", e foi ganhando espaços desgastando a infra-estrutura política dos Toninhos Malvadezas da vida.

Obviamente o ocaso dessas figuras políticas, não decorre apenas pela implantação de políticas de inclusão nacionais, somam-se a isso circunstâncias adversas como no caso de Renan Calheiros, ou de disputas (Jader Barbalho versus ACM no senado). Enfim, um conjunto de adversidades que levam à queda de sustentação popular e a perder a capacidade de evitar dissidências e punir traições. Um enfraquecimento que leva aos grandes baques.

Sem participação visível na superestrutura federal, enfrentando dissidências nas infra-estruturas municipais e estaduais e esvaziados na base eleitoral, já se tornaram sobreviventes, com sobrevida política em fase terminal, pois nenhuma liderança política se sustenta sem base popular.

Com o falecimento de ACM, só restam José Sarney e (em medida menor) Renan Calheiros, Jader Barbalho e Gerson Camata, como últimos remanescentes de um modelo de políticos capazes de trabalhar a superestrutura federal para manter a infra-estrutura municipal e estadual, cultivar o seu eleitorado na entressafra para manter o apoio na safra, e assim fortalecer seu próprio poder.

Mas, todos eles estão em curva descendente diante das circunstâncias adversas, perdendo apoio e traídos em suas bases, e cada vez mais solitários na condução política.


* O autor é sociólogo e escreve em vários Blogs

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito tem se falado sobre os métodos autoritários utilizados por esses senhores.
Acho que o pior foi o ACM, o qual, comandou o Estado com mão-de-ferro nos últimos 15 anos (1991/2006), ainda que no último governo Paulo Souto tivesse encontrado resistência interna aos seus atos no âmbito do então PFL, desdobramento que aconteceu com a eleição do deputado Clóvis Ferraz, à presidência da Assembléia.
ACM era autoritário - todo mundo sabe disso - e o quanto pode, comandou os poderes legislativo e judiciário, neste último, enfrentando a resistência comandada pelo desembargador Carlos Alberto Dutra Cintra, nos últimos anos.
O Judiciário livrou-se do controle de ACM no alvorescer do século XXI.

Anônimo disse...

jader barbalho nunca chegou perto do poder que ACM já exerceu!