quarta-feira, 26 de setembro de 2007

ANALISES e OPINIÕES

A OPINIAO PUBLICADA E O CASO RENAN


Por Tiberio Alloggio (*)


Renan Calheiros saiu vitorioso do braço de ferro que travava (há quatro meses) com a mídia monopolista. Enquanto a “opinião publica” em Alagoas festejava sua absolvição com rojões e foguetes, a “opinião publicada”, ainda atordoada pela derrota, procurava entender o que houve, onde errou, e quem a traiu. Pessoalmente confesso que eu também me senti derrotado, mas isso não me impediu de vibrar muito ao constatar a derrota da mídia monopolista.

Renan foi "flagrado" contrariando suas expectativas (e da maioria dos políticos) de que jamais poderia ser pego. Ou se (por acaso) for apanhado, poderia se livrar facilmente, pois é assim que raciocina um político de poder. Seu caso, normalmente, teria tido outro desfecho, igual aos tantos escândalos sexuais que não passam de mais um capítulo de novela. Mas, Renan, por sua posição, tornou-se um prato cheio para a mídia partidarizada, e acabou sendo "vítima" de um cumulo de ocorrências políticas improváveis, portanto aquilo que era uma probabilidade em milhões aconteceu.

O Senador Alagoano ao longo de sua bem sucedida trajetória política, ocupou posições importantes: líder de governo, ministro de estado e presidente do Senado nos governos Collor, FHC, Lula. Nesse meio tempo, como a maioria dos políticos enriqueceu. Contas elementares podem demonstrar a impossibilidade de acumular patrimônios, só com rendimentos dos cargos públicos. Para tanto o Senador deve ter contado (como a maioria dos políticos) do apoio de terceiros, e não somente de uma empreiteira.

Com esses apoios Renan conseguiu as “sobras” que (como a maioria dos políticos) investiu na criação de bois para justificar seu enriquecimento. Também (como a maioria dos políticos) se serviu de um "operador", para operar transações "não contabilizadas", incluindo nelas as despesas extraconjugais. Renan (como a maioria dos políticos) certamente recebeu recursos não contabilizados, até as pedras sabem disso, mas ninguém tem provas.

Ao contrário do que podemos pensar Cláudio Gontijo não é o delegado da Empreiteira que paga as contas de Renan. Muito pelo contrario, o “apoio” da Empreiteira se dá na remuneração de Gontijo, para ele poder atuar como operador de Renan junto aos demais financiadores. Porem nunca junto à própria empreiteira, pois lá ninguém é tão burro.

Dificilmente alguém poderá provar que a Mendes Jr. repassava dinheiro a Cláudio Gontijo para pagar despesas de Renan. Só se alguns deles cometeram erros elementares, mas essa é também uma eventualidade que representa uma probabilidade em um milhão. Por essa razão Renan sentiu-se absolutamente tranqüilo quando o acusaram de ter suas contas pagas pela Mendes Jr. através de Cláudio Gontijo, pois isso realmente não teria ocorrido.

A mídia que viu no caso Renan a oportunidade de atingir Lula e seu governo, radicalizou. Porém ao perseguir o Senador por um ato que não ocorreu, acabou ajudando-o sem querer. Renan tinha todas as cartas para enrolar o Senado, e por essa razão, ele mesmo encaminhou (sabendo que o encaminhamento era irregular). a representação do PSOL para a Comissão de Ética, vencendo a desconfiança de que queria impedir a apuração.

Renan chegou à Presidência pela sua capacidade de articulação e conciliação e sabia que a oposição a ele no Senado é parte da mesma corporação. Assim como sabia que a oposição nunca teria radicalizado, pois para ela significaria apenas fortalecer um ou outro candidato da base aliada. Para a oposição seria ruim com Renan, mas pior sem ele. Por isso Renan acabou absolvido pelos senadores com os votos determinantes da oposição. Não foi só a vitória do Renan, também a corporação dos senadores venceu.

Portanto, os principais problemas do Renan não estavam no Senado. A pedra no sapato de Renan foi a radicalização da mídia partidarizada. Poderíamos ate especular em torno do que, mas eles sabem bem melhor que nós.

A Mídia, cujo objetivo é derrubar Lula, funciona como um negócio e ao mesmo tempo como um partido. Ela precisa vender jornais e/ou audiência para conseguir anunciar, e o que lhe garante audiência hoje, é uma porção de classe media e da oposição política que a ajudam a pressionar o Governo para garantir anúncios e extorquir privilégios.

Essa mídia constitui a "opinião publicada", aquela que se autodenomina "formadora de opinião". Na realidade trata-se de poucas empresas monopolizadas que operam como "editores da opinião” de um segmento da sociedade. O seu público nunca foi o povo (embora sempre procure tentar passar essa impressão), mas uma parte da classe media supostamente mais educada e mais esclarecida, que lê ou assiste a tudo que ela pauta. Enfim, uma minoria se comparada ao conjunto dos eleitores.

A “opinião publicada” é aquela mesma que brande a bandeira da “ética” em único sentido, ou seja, denuncia os 45 milhões do Valerioduto Petista, mas esconde os 100 milhões do Valerioduto Tucano. Que denunciou os Aloprados do PT para esconder os “Sanguessugas” e seus mentores tucanos. É a mesma que pediu a cabeça de Renan Calheiros não porque merecesse, mas só para atingir a base do Governo Lula, sem dar a mínima para o que fizeram os outros da Operação Xeque-Mate, Navalha, etc.

A opinião publicada vive indignada com o Governo Lula e sua base de apoio, e toda vez que alguém próximo do governo deslizar, sai para a porrada.

A “opinião publicada” tornou-se o maior partido de oposição ao PT e ao Governo Lula, mas ainda não se tocou que a “opinião pública” é e continua a seu favor.
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* O Autor é Sociólogo, e Escreve em Blogs e Jornais

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabens pelo seu blog Porter!
A analise do Sr. Tiberio faz sentido, mas acredito que Renan só venceu uma batalha, a guerra e longa e acho que não vai escapar.