quarta-feira, 17 de junho de 2015

O dia em que a Globo foi salva pelo BNDES


Luis Nassif

Em 2002 fui procurado por Fernando Gentil, diretor do BNDES (Banco Nacional do 
Desenvolvimento Econômico e Social).
Gentil me tomou quase uma hora de conversa para expor o projeto de capitalização da Globocabo 
pelo BNDES. A empresa estava literalmente quebrada, sem conseguir honrar seus compromissos 
com financiamentos externos. A geração de caixa não cobria sequer o serviço da dívida. Sua dívida 
era de R$ 1,6 bilhão e precisaria rolar anualmente de R$ 400 milhões a R$ 500 milhões.
O BNDES detinha 4% do seu capital. A proposta era elevar a participação para poder salvar a 
empresa. A proposta parecia razoável. Sem a capitalização, a Globocabo fecharia e o banco perderia 
o dinheiro investido.
Na época, ainda havia relativa competição na mídia e alguns colunistas tinham independência 
inclusive para fiscalizar abusos de outros veículos de mídia. Por isso tinha sido procurado por ele 
para explicar antecipadamente a operação.
Sem condições de analisar mais profundamente, julguei razoável a ideia de capitalizar a empresa 
para posterior venda, para evitar a perda total dos ativos. Disse-lhe que, da minha parte, achava 
razoável a capitalização (http://migre.me/qjUqo)
Deve ter procurado outros colunistas independentes. O fato é que houve uma megacapitalização que 
elevou para 22,1% a participação do BNDES na empresa, salvando a empresa.
Tempos depois, ela foi vendida para o bilionário mexicano Carlos Slim, tirando a Globo do sufoco.
Não foi a primeira vez que a Globo se aventurou em outros territórios, valendo-se de sua influência 
política.

No governo Sarney, ganhou a NEC de graça, em uma barganha com Antônio Carlos Magalhães, Ministro das Comunicações, em troca de passar para ela a concessão da emissora na Bahia. E com o valioso auxílio da Veja, ajudando a crucificar Garnero.
No governo Collor, quando as teles caminhavam para a digitalização, foram tentadas duas jogadas para viabilizar a NEC.
No Rio, a Telerj, presidida por Eduardo Cunha, tentou impor os equipamentos da NEC na implantação do serviço celular. O inacreditável Ministro da Infraestrutura João Santana tentou fazer o mesmo junto à Telesp.
Colunista da Folha, Jânio de Freitas ajudou a bloquear a jogada da Telerj. Também colunista do jornal, tive papel no bloqueio da jogada da Telesp.
A jogada de ambos consistia em uma pré-seleção de cinco empresas que tivessem equipamentos compatíveis. Depois, caberia a eles selecionar a vencedora.
Jânio escreveu uma coluna pesada contra a manobra de Cunha, e eu outra coluna denunciando a jogada de João Santana.
Uma semana depois Santana me chamou a Brasília. Entrei na sua sala e ele pediu para o chefe de gabinete entrar e me estendeu uma nova minuta:
- Mudamos o edital. Veja o que acha deste novo.
Disse-lhe que não era consultor de governo. Ele que divulgasse a nova minuta, eu consultaria minhas fontes e apresentaria minha opinião através do jornal.
Essa capacidade de auto-regulação da imprensa acabou com a gradativa aproximação dos grupos de mídia, associando-se e, depois de 2005, montando o grande pacto.
A partir daí, houve ampla liberdade e quase nenhuma transparência para os negócios públicos e privados.
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