sexta-feira, 24 de junho de 2016

A UNIÂO EUROPEIA AMEAÇA RUIR, E O NACIONALISMO ESTÁ DE VOLTA: ISSO É RUIM PARA A ESQUERDA ?


“É a segunda vez que minha geração tem a sensação de ´fim-do-mundo-tal-como-o-
conhecemos”.

por Rodrigo Vianna

A frase acima é de Antonio Luiz M. C. Costa, e foi retirada do twitter do jornalista – que escreve 
sobre temas internacionais na revista CartaCapital. Antônio se refere, é claro, à decisão dos eleitores 
do Reino Unido, de sair da União Européia.
A primeira vez que nossa geração (dele e minha) teve essa sensação foi quando a União Soviética 
ruiu, há 25 anos. Agora é a arquitetura política do mundo capitalista que também ameaça desabar.
A decisão dos britânicos, tomada por estreita margem, se baseou num discurso conservador, de ódio 
aos imigrantes que estariam “roubando os empregos dos britânicos”. A ultra-direita avança, 
explorando o tema do nacionalismo. Isso é evidente no Reino Unido, nos EUA com Trump, na 
França e em boa parte do mundo europeu. E aí a política se entrelaça à economia…
A crise subprime de 2008, que arrasou os países do sul europeu, e deixou os Estados Unidos também 
em situação mais frágil, encerrou a temporada de bonança e otimismo – que de certa forma vinha 
desde o pós segunda guerra (com altos e baixos).
Vejam que a direita “liberal” britânica (falo especificamente de David Cameron, um conservador 
herdeiro de Tatcher, e que defendia a União Européia como forma de permitir mais circulação de 
capitais e mercadorias) foi atropelada pela direita quase fascista do “fora, imigrantes”.
Sim, a “BREXIT” é uma vitória da direita extremada. E significa um solavanco sem precedentes na 
ordem política capitalista desde a Segunda Guerra. Mas o curioso é observar que parte da esquerda 
também apoiou a saída do Reino Unido da União Européia. E o fez por entender que a abertura de 
fronteiras e o enfraquecimento dos estados nacionais são uma plataforma que interessa sobretudo ao 
capital, mas não aos trabalhadores.
Ou seja: a “BREXIT” foi uma vitória da direita extremada. Mas significou o retorno de um velho 
tema que a esquerda (no mundo e também no Brasil) negligenciou nos últimos anos: a questão 
nacional.
Sim, é possível ser nacionalista de direita (valorizando o discurso xenófobo, preconceituoso, 
excludente). Mas é possível, também, ser nacionalista de esquerda, na medida em que nacionalismo 
possa significar o fortalecimento do estado nacional na luta contra o Imperialismo (essa palavrinha 
que parecia “fora de moda”) e os arranjos do capitalismo financeiro (a União Européia sob 
hegemonia germânica, claramente, é um desses arranjos, bem como a tentativa dos Estados Unidos 
de recolonizar a América Latina, ora em curso).
Notemos que no Brasil o projeto da direita extremada, que se reúne sob Temer, é nada menos do que 
liquidar a própria ideia de um estado nacional independente. O projeto é a submissão completa ao 
projeto capitalista comandado pelos Estados Unidos.
De certa forma, o renascimento do nacionalismo de direita na Europa (e no mundo) vai obrigar a 
esquerda a encarar esse dilema: vamos defender os estados nacionais como ferramenta de 
desenvolvimento e de garantia da democracia? Ou vamos nos concentrar nas batalhas transnacionais 
de combate à injustiça?
O importante pensador Slavok Zizek acaba de escrever sobre o tema. E ele acredita na segunda 
vertente: acha que não se pode combater o nacionalismo de direita com uma esquerda mais 
nacionalista – https://blogdaboitempo.com.br/2016/06/24/zizek-precisamos-entender-a-esquerda-que-
apoiou-o-brexit/
Mas será que isso vale para nossa realidade? Brasileira e latino-americana?
Na Europa (e entre intelectuais brasileiros que transplantam para a América Latina temas europeus, 
sem levar em conta as condições locais), a tendência é geralmente olhar o nacionalismo como algo 
regressivo e conservador. Na Europa, historicamente, até, isso pode ser verdade – e por isso 
compreende-se a reflexão de Zizek…
Mas na América Latina ser de esquerda passa por defender um estado forte e democrático, capaz de 
capitanear o desenvolvimento (já que a “burguesia nacional”, no Brasil e em boa parte da América 
Latina, sonha mesmo é com um apartamento em Miami) e de reduzir as desigualdades.
A crise gerada pela “BREXIT” pode ser uma chance para repensar essa questão. O nacionalismo está 
de volta.
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