sábado, 5 de setembro de 2015

Porque a planilha não prevê o futuro



Luis Nassif

No final do ano passado, ousei prospectar os cenários econômicos para 2015.
Trabalhei três cenários possíveis.
O primeiro era de política econômica Radical Ortodoxa.
Consistia simultaneamente em ajuste fiscal rigoroso, ajuste cambial, desrepresamento de tarifas e 
política monetária severa.
No Cenário Econômico, haveria queda no PIB, aumento no desemprego, redução dos gastos sociais e 
das emendas orçamentárias.
No Cenário Político, desgaste com a base aliada, decepção dos empresários, dificuldade em casar 
rigor fiscal com atendimento de demandas políticas.
No Cenário Social, explosão de manifestações.
As consequências eram tão assustadoras que descartei esse Cenário. Assim como descartei o Cenário 
Pau na Máquina.
Restava, como factível, o Cenário Contemporizando.
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Mal começou, o segundo governo Dilma Rousseff optou pelo Cenário Radical Ortodoxo, com as 
consequências previstas.
No minha análise, a avaliação das consequências estava correta. A conclusão, errada, porque 
desconsiderei uma variável fundamental: a incapacidade de Dilma Rousseff -- e de seu Ministro da 
Fazenda -- de pesar as consequências das medidas econômicas adotadas.
O exemplo é uma amostra pela qual a economia não é uma ciência exata e a planilha não responde a 
todas as questões.
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Na 5a feira conversei longamente com o neurocientista Nicolieli sobre as semelhanças entre a 
economia e a neurociência.
O cérebro é caótico e adaptativo, diz Nicolelis. Nas próximas semanas ele estará apresentando ao 
mundo conclusões revolucionárias de seus experimentos.
O mesmo ocorre com a economia. Tem-se uma economia em equilíbrio, com os agentes 
respondendo a determinadas políticas. Ocorre um fato grave qualquer, político, social, econômico. 
Imediatamente as condições se alteram. Medidas que seriam eficazes antes, não mais serão depois. A 
única maneira de ousar adivinhar é através da intuição.
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Vamos ao caso Brasil.
Terminam as eleições e Dilma Rousseff consegue recuperar parte da credibilidade perdida. 
Desaparece por dois meses e reaparece com uma capacidade inédita de produzir desastres políticos e 
econômicos. O Brasil do dia seguinte às eleições tornou-se totalmente diferente do Brasil atual.
Em qual algoritmo caberia desastre tão amplo e inédito?
***
O que diferencia o grande analista econômico, político, o grande analista de pesquisas eleitorais, até 
o astrólogo ou o vidente, das pessoas comuns é a intuição.
Mas a intuição não nasce do nada. A pessoa precisa dispor de um conhecimento prévio do objeto 
tratado, tanto o conhecimento livresco como do dia a dia, captando movimentos que não constam dos 
livros e identificar fatos que mortais comuns jamais suporiam poder influenciar o cenário principal. 
O cérebro processa esse conhecimento, de maneira ainda não compreendida, e - para o grande 
analista - define os caminhos centrais a serem acompanhados e as conclusões básicas a serem tiradas.
O maior enxadrista da história, Gary Kasparov, dizia que, no xadrez, as linhas de análise são 
infinitas. 
O que diferencia o grande mestre dos mortais comuns era a capacidade de intuir a linha vencedora.
Por não se saber ainda como o cérebro processa essas informações, essa capacidade é batizada de 
intuição, ou vidência, de acordo com a fé do analista.
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