sexta-feira, 3 de julho de 2015

Mídia “abafa” escutas ilegais que pode melar a Lava Jato


“Falando para os parlamentares reunidos numa sessão fechada, o agente da Polícia Federal 
Dalney Fernando Werlan contou que:
a) no início do ano passado foi chamado por seus superiores, que determinaram que instalasse 
um grampo eletrônico numa cela da carceragem da Polícia Federal em Curitiba, reservada 
para abrigar um determinado prisioneiro;
b) Werlan fez o serviço e, dias depois, apareceram dois prisioneiros: o doleiro Alberto Yousseff 
e Paulo Roberto Costa, diretor da Petrobras, os principais delatores da Lava Jato.
c) orientado pelos superiores, todos os dias o agente recolhia um arquivo eletrônico do 
equipamento, para entregar à chefia;
d) duas semanas depois, Alberto Yousseff fez um pequeno escândalo na carceragem: apareceu 
com o grampo na mão, dizendo que havia encontrado no teto da cela.
e) Yousseff disse , mais tarde, que começou a desconfiar do grampo durante os interrogatórios. 
Contou que tinha a impressão que os policiais perguntavam coisas que ele tinha conversado 
com Paulo Roberto Costa na cela.

Por: Fernando Brito

Como era de se esperar, os jornais de hoje “abafam” a denúncia gravíssima de que a Polícia Federal não apenas colocou uma escuta telefônica clandestina na cela do “superdelator” Alberto Youssef, como armou uma sindicância fajuta para negar a ilegalidade absurda perante a Justiça.
Isso, como dizem os editores à moda Sérgio Moro, não vem ao caso, embora juridicamente possa até servir de base para a anulação de toda ou boa parte da investigação, isso se ainda houver alguma regra jurídica valendo neste país e os tribunais não tenham se tornado apenas “disputas de torcida”, como parece indicar a matéria do “3 a 3 “no TSE sobre as contas eleitorais de Dilma, aprovadas mas que, como diria Eduardo Cunha, “podem ser votadas de novo”
A manchete vem de uma história vaga, mais do que imprecisa, de um depoimento que dormia preguiçosamente nos autos há um mês (isso depois de um ano de interrogatórios quase diários) que contém a acusação de Youssef de que um belo dia, alguém o procurou e pediu para entregar R$ 20 milhões para a campanha de Dilma. Publico ao final a transcrição literal da Folha, mas me permito “traduzir” para algo igual e mais simples:
– Quem? Ah, foi uma pessoa de nome Felipe…
– Mas que Felipe?
– Não sei, ele me procurou uma vez dizendo isso, eu não sei quem é, sei que o conheci junto com o Charles…
– Mas que Charles?
– Ah, um que é dono de restaurante…O Felipe é filho do dono de uma empreiteira, não lembro qual…
Bom, ainda bem que não foi o Mário, para eu não lembrar das brincadeiras que se fazia com o nome, nos tempos de adolescente…
Porque um depoimento destes, afinal, não serve para nada senão para piada.
Uma pessoa que se mal conhece chega e pede para fazer uma operação de 20 milhões de reais, assim, na base do “me dá que eu vou dar para a Dilma”? Para alguém que se diz íntimo e “doador” do tesoureiro oficial do PT, como Youssef diz ser de João Vaccari?
Poxa, eu devia ter conhecido o Youssef e pedido 20 milhões a ele, em lugar de ficar perdendo meu tempo em analisar algo desta natureza virar manchete nos jornais…
Será ninguém leva em conta que o depoimento de junho destinava-se a tentar materializar um “acho que eles sabiam” sobre Lula e Dilma que quase virou de cabeça para baixo as eleições? Como ele sabia? Ah, por causa do Felipe e do Charles…
Em lugar desta baboseira para inteligências microscópicas acreditarem com este nível zero de materialidade, o que deveria ser manchete eram as afirmações, com nome, sobrenome, datas e circunstâncias, por um agente e um delegado da PF de que autoridades públicas da Polícia Federal violaram a lei e puseram em risco (repito, se não tivermos abandonado definitivamente o terreno da lei) toda a investigação.
Mais, que isso foi feito pelos chefes da Polícia Federal do Paraná, pelos responsáveis pela investigação que abalou a República e paralisou o país!
Pois isso não foi para as manchetes por duas razões.
A primeira, evidente, é que a mídia é parte deste processo de encobrimento e direcionamento político da Lava Jato e que, para ela, “isso não vem ao caso, arquive-se”.
A segunda é que o Ministério da Justiça e a direção da Polícia Federal não exercem seu dever de, feita de forma concreta e objetiva não por um “Felipe” ou um “Charles” quaisquer – podem crer, Felipe e Charles estão sendo providenciados, neste momento – mas por um agente e um delegado graduado da própria instituição.
Um ministro da Justiça republicano – não chamem a covardia e a sabujice de republicanos, por favor – deveria ter determinado que o Diretor da Polícia Federal afastasse os delegados acusados até a apuração da denúncia, que está apoiada no fato concreto e incontestado de que se achou a escuta, de fato, na cela do bandido.
Mas não… tudo fica assim e a equipe acusada da violação da lei é a mesma que investiga, o complicadíssimo caso, onde há um agente que diz que colocou o grampo, um delegado que confirma e a aparelhagem que foi achada!
E vamos acabar “descobrindo” que quem mandou violar a lei foi o Felipe, ou o Charles, ou o Mário…
– Que Mário?

PS – Transcrição literal,feita pela Folha: “”Olha, uma pessoa de nome Felipe me procurou para trazer um dinheiro de fora e depois não me procurou mais. Aí aconteceu a questão da prisão, e eu nunca mais o vi”. (…) O doleiro afirmou que Felipe não pertencia ao seu círculo de relações ou amizades, e que o conheceu por meio de um amigo chamado Charles, que tinha uma rede de restaurantes em São Paulo.Youssef disse não se lembrar do sobrenome de Felipe. “Se não me engano, o pai dele tinha uma empreiteira. Não consigo me lembrar [do nome da empreiteira]”
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