sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Mino Carta: Folha provou que governo ‘gosta de apanhar’



Mino Carta, na Carta Capital:

A Folha de S.Paulo está de parabéns: na sua edição de quarta 17 provou que o governo federal tem
acentuadíssima vocação para mulher de apache, a gigolette que gosta de apanhar do gigolô. Ou se
trataria de uma forma aguda da síndrome de Estocolmo? De todo modo, a reportagem desdobrada a
partir da manchete da primeira página demonstra, com precisão de teorema pitagórico, que o governo
cumula de favores aqueles que o denigrem ferozmente dia após dia.
O trabalho em questão, de página inteira no interior da edição, informa que entre os anos 2000 e 2013
as Organizações Globo ganharam 5,2 bilhões em publicidade das estatais e a Editora Abril mais de 500
milhões. A Folha faz questão de dividir a mídia nativa em dois campos. De um lado, a maioria das
empresas, reunidas neste canto sem maiores esclarecimentos. Do outro, as “empresas alinhadas ao
governo”, encabeçadas pela Editora Confiança, que publica CartaCapital, Carta na Escola e Carta
Fundamental. E nós não passamos de 44,3 milhões.
Dirá o desavisado: alinhados e mal pagos. Vale aqui, antes de mais nada, uma reflexão. Que significa
alinhado? No governo de Fernando Henrique, não vimos a cor de um único, escasso anúncio de
estatal. E como se deu a nossa sobrevivência nos oito anos tucanos? Teria nos socorrido o ouro de
Cuba ou de Moscou?
Apoiamos a candidatura de Lula em 2002 e 2006 e a de Dilma em 2010 e 2014, de acordo com uma
prática comum em países democráticos e civilizados. Apoiamos, de início, e confirmamos ao longo do
tempo, por razões larga e frequentemente esclarecidas aos leitores. Os governos de Lula e Dilma são
pioneiros na realização de uma política de inclusão social muito bem-sucedida e de uma política
exterior independente dos interesses do império americano, ambas vitais para o País. Em outros pontos,
no decorrer desses 12 anos, fomos críticos severos. Por exemplo, em relação a uma política industrial
ineficaz. Ou à rendição aos transgênicos. Ou a toda e qualquer medida econômica embebida em
neoliberalismo. Quanto ao PT, de pronto consideramos, e sublinhamos, que no poder porta-se como os
demais.
Ao listar os pretensos alinhados e ao não qualificar os demais, a Folha nos atribui o papel de jornalistas
de partido e com isso fornece outra prova: como sempre, obedece aos seus naturais pendores e, no
caso, manipula a informação e omite a qualidade dos demais, alinhados de um lado só, guiados pelo
pensamento único enquanto, hipócritas inveterados, declamam sua isenção, equidistância, pluralidade.
Ou seja, inventam e mentem.
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